Agenor Sereno - nosso homem em Ubá - escreveu este texto no início de 2007. No momento em que a guerra ao tráfico se exacerbou no Rio, as considerações do Sereno ganham nova vida. E revelam-se atuais, passados quase quatro anos. Leiam e reflitam (Carlos T. Moura)
O ano começou do jeito que a mídia gosta: crimes bárbaros e tragédias, que aumentam a audiência e vendem jornais paca. E trazem, a reboque, as soluções simplistas que a direita adora: Forças Armadas nas ruas, redução da maioridade penal, pena de morte e outras coisitas mais.
Falo da direita sim, pois com a devida desculpa ao sr. Presidente, eu, com mais de 60 ainda preservo os valores de um velho esquerdista de boa cepa. Segundo ele, não devo ser normal.
Claro que existem muitas coisas que deveriam e devem ser feitas: maiores investimentos em Segurança Pública, Educação, combate sem tréguas à corrupção, melhor aparelhamento das Polícias, etc,etc,etc.
Mas, será que alguém que tenha um mínimo de lucidez é capaz de imaginar que o traficante de drogas se arma com o que existe de mais moderno e mortífero, comprando de outro traficante do morro?
Isso é coisa de crime organizado, gente. E organizado quer dizer com ramificações em todos os poderes. Não só os convencionais: Executivo, Legislativo e Judiciário. Também poder Econômico, Financeiro, Sociedade Civil, etc.
Por favor, deixem um pouco de lado as Rede Globo e os jornalões, todos capachos do sistemão que nos domina, e leiam autores sérios, que tratam o problema sem sensacionalismo, como por exemplo Luiz Eduardo Soares, ex Secretário Nacional de Segurança Pública que escreveu, entre outros, Violência e Política no Rio de Janeiro, Cabeça de Porco (parceria com MV Bill e Celso Athayde) e o argentino Jorge Beinstein, autor de Capitalismo Senil – A Grande Crise da Economia Global, onde mostra que isso está acontecendo em todo mundo capitalista. Grandes Corporações, dessas que você vê a logomarca delas todo dia na TV, desovam dinheiro sujo financiando tráfico de armas e drogas. Depois, lavam nos famosos paraísos fiscais. Não é coisa de amadores não, meninos. Claro que onde existe uma mínima presença do Estado, os efeitos são menos visíveis.
Vamos atentar que essa escalada de violência se aprofundou no início da década de 90 (após a queda do Muro de Berlim). O Império dominante (sempre bom lembrar que não é só o governo americano, mas também as grandes empresas capitalistas) ficou sem contraponto. Tinha um certo freio. Depois da falência do caduco Socialismo Real, se sentiu à vontade de fazer o que quisessem.
Saudaram o triunfo do Capitalismo. Só “esqueceram” de dizer que Capitalismo, se é EUA, Inglaterra, França, Itália, Alemanha, Canadá, Japão é também Uganda, Haiti, Somália, nordeste e favelas do Brasil, população pobre de Nova Orleans (90% negra), como a enchente desmascarou.
Um estudo recente da ONU mostra que, para toda população do mundo ter o padrão de vida dos sete grandes, era necessária a existência de 05 planetas Terra.
O verdadeiro terror não é negro, de bermudão e AR 15 na mão, gente. É branco, de terno Armani, carrão com motorista, trabalha em ar condicionado, voa em jatinho particular e preside Fundações de Assistência Social. Aqui e lá fora.
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