A apresentadora foi Marília Gabriela – que também se diz atriz e cantora. Teve uma carreira brilhante na tv brasileira. Comanda três programas : um no GNT (recebe dos marinhos), outro no SBT (recebe do Sílvio Santos) e esse da Cultura (recebe, indiretamente, do governo tucano de S.Paulo). É hoje uma caricatura de si mesma. Seu imitador do Pânico na TV é mais Gabi do que ela.
Os “ inquiridores” eram:
Augusto Nunes – blogueiro da Veja. Como sabe escrever, os civitas o contrataram para a revista. Se não soubesse, dado sua elegância e porte, daria um bom mordomo.
Guilherme Fiúza - Garoto de Ipanema, escreveu um livro (“Meu nome não é Johnny”) que virou filme. “Obra-prima” da literatura nacional. É colunista da revista Época, ou seja, carteira assinada pelos marinhos.
Paulo Moreira Leite – blogueiro da revista Época, ou seja, prestadio dos marinhos.
Sérgio Lírio – redator da revista Carta Maior, ou seja, empregado do Mino Carta.
O canal, como se sabe, pertence à Fundação Anchieta. Do governo estadual de S. Paulo.
Com essa distribuição amplamente “democrática” (três serviçais dos marinhos + um dos civitas contra um do Mino Carta), imaginem. Zé Dirceu foi escolhido a dedo, porque não foge. Querem prato melhor para uma blitzkrieg no dia seguinte à derrota?
Mostrou-se magnânimo o tempo inteiro. Defendeu-se. Em alguns momentos assistiu ao que parecia uma contenda entre os jornalistas(?), tal a voragem em devorá-lo. Outro humano pararia o programa e pediria, no mínimo, ordem no arraial. Os quatro serviçais disputavam os cutelos para ver quem sangrava primeiro o cachaço.
Perguntas já eram respostas, a ponto de, numa delas, Gabriela ter que interromper Fiúza para que ele desembuchasse. Nenhum estava interessado em ouvir Dirceu, condenavam sem julgamento, jogando-lhe na cara os editoriais e a cartilhas de seus amos.
Moreira Leite parecia o galo da madrugada que esganiçava sob um desespero braçal. Tem o porte de uma coruja magra e envelhecida, segurando na fala a dentadura. Diante de um Dirceu que detalhava tudo, não se conteve e, espavorido, vociferou babando agressão que poderia ser traduzida como: “ então, ô capeta, o que que você fez, não podemos sair daqui sem arrancar-lhe uma confissão, que pena a Cultura não ter um garrote vil para que você solte tudo que sabe”...
Foi um programa exemplar. Gabriela – arrastando os erres e estabanando os braços – perdeu o que lhe restava de compostura, em plena ressaca de derrota eleitoral. “ Mas foi uma eleição apertada!!!!”
E Dirceu: “ O quê? Com doze milhões de votos na frente?”
Marília apertada, eleição idem. O jornalismo brasileiro na ponta dos cascos.
Quanto se aquietavam para ouvir, Dirceu dava-lhes um baile de bola: política nuclear mundial, leis de imprensa estrangeiras, história recente do país, frias análises de resultados eleitorais, economia, relações exteriores. Cuba, Venezuela, Alemanha, Nélson Rodrigues, Vargas Llosa. Calavam-se, pois só se alfabetizaram em clichês. Augusto Nunes sabe tudo sobre o Dirceu mas, se perguntado longe do Google, gaguejaria para dizer quem governa o Paraguai.
Via-se que sabem pouco de quase nada. Reféns da tautologia a que foram obrigados a sustentar, não se equilibrariam mais do que quinze minutos numa discussão com Dirceu sobre a legislação eleitoral brasileira. Gabriela, numa papo desse nível, voltaria a pedir asilo numa novela. Pra desgraça de quem ainda assiste folhetim da Globo, coitado.
Dirceu confundiu-se com datas numa vez – o que Augusto Nunes está explorando em seu blog para delírio de sua galera faminta. E deveria ter se defendido melhor na questão dos insultos a Covas. De resto normal, tal a pressão. Para aferir sua atuação precisaríamos de uma neutralidade inteligente, difícil hoje na imprensa brasileira. Para uns ele se explica, para outros ele mente.
Sérgio Lírio, da Carta Capital, só era acionado por favor. E deu o tom discreto, sem jogar purpurina no entrevistado. As regras rígidas dos debates – embora engessantes – deveriam ter sido exigidas por Dirceu, a estrela do programa.
Não me lembro de ter visto na tv brasileira um massacre tão desgovernado, deseducado e desrespeitoso com um entrevistado. Nunca vi tanta arrogância, sarcasmo, incompetência e confrangimento juntos. Vai ficar na História, anotem. O trio de derrotados eleitorais escolhido, unido à comandante descontrolada, já adentrou o gramado munido de chibatas, esporas e floretes. Destruindo Dirceu, poderiam desmascarar a eleição do dia anterior.
Fazendo-lhe confessar um crime, desmoralizariam Dilma. Provando a existência do mensalão, sairiam com a cabeça voltada para o símbolo de um Lula algemado, carregado de Brasília para ser entregue à fogueira da elite “ tea party” de Ipanema, Lagoa e adjacências.
No final, o garotinho Fiúza, do balanço zona sul e da mesma índole do Índio, soltou a pergunta que preparara durante dias, para cercear Dirceu na questão “ mais importante” do momento: “Vocês vão mesmo invadir o Sítio do Picapau Amarelo?”. Só faltou dar um adeuzinho pra mamãe, pro papai e pra tchurma de garotinhas saradas que o assistiam no Leblon: “eu sô foda de inteligente”!
Dirceu, na resposta, botou a questão no rol da insignificância que ela merecia.
Enquanto ruminavam a dor da derrota (piorada por terem sustentado candidato tão incompetente como Serra), os brasileiros que movem a máquina do mundo dirigiam ônibus, cuidavam das portarias dos prédios, enfermavam nos hospitais, faxinavam os escritórios, bilhetavam nos metrôs, controlavam os voos, garçonavam nos bares, medicavam nos ambulatórios, vigiavam as hidrelétricas, operavam no telemarkining, dançavam, amavam.
O cagaço tomou conta. Uma nova classe está surgindo no país e, com ela, quem sabe chegará também uma alternativa em opiniões impressas e faladas. Novos jornais, novos canais. A voz do outro lado ecoada com o mesmo som e a mesma fúria.
E Zé Dirceu vai continuar povoando os sonhos de alguns e os pesadelos de outros.
Abaixo os links das quatro partes da entrevista (Youtube):
http://www.youtube.com/watch?v=-OU7sACet8o&feature=channel
http://www.youtube.com/watch?v=C77Y1qhDlcE&feature=channel
http://www.youtube.com/watch?v=R9moJSkqq4Y&feature=channel
Fala Moura,
ResponderExcluirEu não vi o debate mas entendo que convidar o Zé Dirceu após as eleições é no mínimo curioso. Frustração pela derrota, vontade de criar algum dado para diminuir a vitória ou simplesmente demonizar mais um pouco uma pessoa que virou um mote para a campanha dessa turma. Parabéns para o Zé Dirceu por estar aberto e disponível para este tipo de "programa". Só lamento por que achei que a derrota daria um pouco de lucidez para esses "índiosdacostenses".
Abraços
Oi Moura
ResponderExcluirNão vi a entrevista ainda mas muito bons seus comentários e análises.
Abraço
Moura, brilhante avaliação da entrevista com o Zé Dirceu. Eu assisti ao roda viva nessa noite e entendo que a vitória da Dilma e aliados na véspera ainda machucava essa corja toda (chuuupa!!!). O Zé Dirceu também foi brilhante (f*** mesmo!) e em alguns momentos desejei unir minhas forças nas "luvas de pelica" com que ele socou os serviçais do PIG. Alguns comentários/argumentos dos tais entrevistadores me deixaram com náuseas. Pelo amor de Deus!
ResponderExcluirMoura, faz pouco tempo a mesma Marília Gabriela entrevistou o mesmo José Dirceu em seu programa na GNT. Impressiona a diferença de postura da entrevistadora e a qualidade da entrevista.
ResponderExcluirCom seus braços de catavento, agora faz perguntas casadas com respostas ("você vai dizer que não mas..."), agride o entrevistado ("você não pode isentar o partido de maneira louca"), faz perguntas pseudo-inocentes ("nós vamos assistir a um loteamento de cargos?"), e apela ao deboche ("vamos dizer com delicadeza pra você não ficar bravo") e ao cinismo ("eu sabia que esse programa ia dar nisso"). Por fim demonstra todo seu domínio da mesa de inquisição: "sem falar um em cima do outro".
Já os entrevistadores, exercendo a futorologia, ("Erenice ia ser ministra") e expressando mais uma vez a indignação seletiva, ligam a metralhadora giratória e levam o entrevistado ao ponto de dizer: "posso falar e terminar de dizer a minha posição?"
Augusto Nunes, que me fez lembrar Renato Maurício Prado da SPORTV, com seu estilo "carteirada" de perguntar e não aceitar resposta, termina sua questão com o inacreditável complemento: "depois você me responde". Também chama de "aliança com o Irã" a disposição brasileira de negociar a crise nuclear envolvendo aquele país e produz, como uma ostra, a pérola: "você está defendendo a bomba para todos". Consegue ainda se superar ao dizer que gostou mais das perguntas que das respostas no momento de analisar a entrevista ao fim do programa.
Guilherme Fiúza faz uma pergunta: "Quem é Dilma Roussef?". Essa podemos sugerir que consulte o Tribunal Superior Eleitoral. Será que como toda a sua perspicácia, esteve isolado no Sítio do Pica-Pau Amarelo e perdeu essa informação?