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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Os abastados do Santo Inácio e os excluídos de Além Paraíba

Rádio Nacional - O Primo Rico e o Primo Pobre (Paulo Gracindo e Brandão Filho)


Por Carlos Torres Moura


  • ANEAS Colégio Santo Inácio
    (Entidade de Utilidade Pública Federal)

as mensalidades:

· Pré-Escola II / Educação Infantil - .R$ 1.250,00
1º ao 5º Ano / Ensino Fundamental - R$ 1.200,00
6º ao 9º Ano / Ensino Fundamental - R$ 1.315,00
1ª e 2ª Séries / Ensino Médio - R$ 1.410,00
3ª Série / Ensino Médio - R$ 1.625,00

Eu, que cancelei minha assinatura do Globo dois dias depois do segundo turno, continuo recebendo-o por “cortesia”, sei lá até quando. E o pobre do entregador tem ordens expressas para não aceitá-lo de volta, vejam que loucura!

Ligam quase todos os dias implorando a minha volta. Vejam o quanto eles precisam de nós – qualquer hora me oferecerão o jornal de graça, para manter o índice de circulação.

Danem-se. Fica, no entanto, um “gostinho de sangue” na boca: quanta falta lhes faz um mísero assinante!

Portanto, os filhos do Roberto Marinho continuam aporrinhando minhas manhãs. Passo os olhos pelo desfile diário do circo de horrores das sujas folhas políticas e – pimba! – descubro hoje, 23 de novembro, na página sete, um artigo assinado a sete mãos(!) por um grupo de estudantes do Colégio Sto. Inácio, do Rio.

Advinhem o mote??? Esculhambação ao ENEM.

Não pensem que os meninos, em algum momento, mencionaram a importância do exame para a enorme classe dos adolescentes antes afastados do processo. Claro que não. Indignam-se ao falar em “vazamento “ em 2009, quando todos sabem que o que houve foi roubo, crime. Que aprendam a pesquisar antes no Google.

Tentam desmantelar toda a estrutura do exame, incluindo declaração de Lula. Falam em “fundo do poço na educação”, “ desmerecimento de milhões de estudantes”, ‘ total falta de seriedade e comprometimento do MEC quanto a assuntos educacionais”, “ desrespeito”, “ironia masoquista do presidente da República”, “demonstração de cruel e total descaso”, “ menosprezo e escárnio”, “ auroridades incompetentes” e – bingo! – “ medidas imediatistas e populistas”.

Foi o único momento em que se referiram indiretamente - e ao seu modo - ao caráter democrático do exame e a sua escancarada abertura de oportunidades à legião dos excluídos.

Não, não foi um blogueiro da Veja que assinou o texto.

Foram sete garotos estudantes de um dos mais caros colégios do país (vejam as tabelas no cabeçalho) que não precisam de universidade pública. Se os pais podem pagar o que está aí em cima (excetuando, pra não ser injusto, se houver algum bolsista pobre entre eles), que matriculem-se nas PUCs. Larguem um pouco o osso que seus ascendentes desfrutaram por décadas às custas de nossos impostos.

Enquanto isso, os meninos dos colégios estaduais Sebastião Cerqueira e São José, aqui da pequena Além Paraíba(MG), sorriram - naquele fim de semana ensolarado - por desfrutarem mais uma vez de uma chance que, antes, só era reservada aos filhos dos donos dos casarões.

Só que a alegria desta garotada jamais terá o direito de ser estampada nas páginas do Globo, moradia privilegiada da classe média da Zona Sul carioca.

6 comentários:

  1. Olá,
    Não vamos esquecer a enorme indústria que existe para colocar os alunos dentro de uma federal. E´uma negação de toda a história do aluno na escola em favor da imagem de um pré universitário milagroso e caríssimo. Na verdade são alunos de instituições de "ponta" falando em nome dos donos dessas "pontas" para não perderem o acesso quase que exclusivo as universidades que ,por sua vez, seriam de todos.
    Abração

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  2. Isso Maurício, é nessa indústria, que tem obviamente sua representação política, que fica um dos principais focos de resistência ao ENEM. Outros que perdem dinheiro, ou pelo menos perderão com a evolução do ENEM como principal forma de acesso às Universidades, são as pessoas que elaboram as questões das provas de vestibular. A democratização do acesso traz ainda, incômodo aos que se acostumaram a melhores condições de competir baseadas fortemente na renda e que agora terão a companhia mais presente do critério do mérito.

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  3. Moura, 2 comentários:
    1- Foram 14 mãos, 2 por adolescente.
    2- Que tal incentivarmos aos que foram beneficiados pelo Enem, de escreverem sobre ele? Que mandem de Além Paraíba, com o apoio de seus professores públicos, sua manifestação de apoio.

    Porque não?

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  4. Cheguei a pensar também em 14 mãos, Felipe. Só que não é piano, é escrita. A não ser que os sete sejam ambidestros... Boa discussão, não?
    Quanto aos de Além, quem sabe? Mas só se for pra publicar no nosso blog, porque no "grobo"...
    Boa ideia. Vou tentar uns contatos quando voltar à cidade. Abraços.

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  5. Oi...pois é Flávio.
    A força social que esse funil tem é enorme mas o impotante mesmo é a formação do cidadão. Um pré vestibular ou até mesmo uma faculdade não tem essa capacidade que deveria ser natural na formação escolar. O abandono de investimentos no universo que é a experiência escolar é o cerne de tudo. A diversidade de professores, colegas e situações de uma escola é o que temos de mais próximo a realidade brasileira. Bons profissionais só existiram quando eles trabalharem para nossa realidade. A importância de expandir o acesso 'as universidades do ENEM é inegável mas o que o torna mais valioso é seu potencial para o resurgimento do ensino escolar de qualidade. Quando isto ocorrer o fato de um aluno ter mas condições econômicas do que outro será irrelevante.
    Abração

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  6. Só posso te dar parabéns pelo texto. PARABÉNS.

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