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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Uma aula de cidadania e de governo Lula (por João Luiz Costa Lopes)

Curitiba, 13 de Outubro de 2010

Amigos,

Não mandei a mensagem para ser agressivo ou xarope, mas por que acredito que há bom humor também neste momento.

O Blog do Professor Hariovaldo, para mim, é um antídoto a este azedume que virou esta campanha.

E aqui deixo claro: por parte da campanha de Serra e seus milhares de emails falsos e acusações mentirosas.

Estou espantado com a quantidade de asnices que assacaram contra a Dilma: ora é homosexual, ora é abortista, ora é presa condenada sem poder ir aos EUA, ora é cumplice de Erenice, ora é terrorista, enfim... uma campanha de desqualificação, raivosa e cheia de ódio.

Ao contrário de vocês, e com todo o respeito a suas opiniões, não acho que a Dilma seja um cavalete. Acho que inclusive ela se mostrou excepcionalmente qualificada para o exercício da função mais importante do governo Lula que era a execução do plano de ação. O lula é figura política das mais importantes, mas Dilma é a executora do plano. Confesso que esta visão tive em profunda e demorada conversa com o Guilherme Amintas, que trabalhou com ela no Ministério e disse que ela é MUITO, mas muito competente no que faz.

No plano político, que é o mais importante, para mim não há dúvida: o governo tem plano para o futuro. Tem PAC . Tem descentralização de conhecimento. Tem crescimentos regionais expressivos. Tem políticas de inclusão para pessoas de baixa renda. tem preocupação com escolas, faculdades, professores e servidores públicos, Tem uma visão diferente de Estado, onde é agente indutor e não regulador. Teve compromisso em proteger a riqueza do petróleo e não de entregá-lo a iniciativa privada. Tem uma visão menos economista e mais estadista da nossa nação.

Se antes todos os investimentos eram direcionados ao Sul sudeste, hoje há uma alteração deste eixo e o nordeste começa a ser um agente importante de desenvolvimento.

Se tiver oportunidade entre nos planos do PAC, e lá vais ver um projeto de futuro, com integração regionais com modais distintos, com portos, aeroportos, ferrovias, e isso com obra e empregos verdadeiros e com impusionamento do nosso gigante adormecido. Há emprego e há melhor renda. Não falo isso da boca para fora. Falo isso pelo meu frentista Gabriel, que tá de carro novo e com casa do minha casa minha vida. O que eu sempre quis de país era que melhorasse para quem precisa e isso está acontecendo.

Vejam o caso dos projetos do cisterna (no Nordeste) e do luz para todos. Dos catadores de papel (recicladores) todo Natal com o presidente Lula. Vejam o discurso do catador de papel na cerimônia de entrega da lei dos residuos solidos... Vejam os discursos da primeira turma de médicos formados pelo pro-uni. Mas isso só na internet.

No caso da educação, tenho em casa uma Professora Universitária muito feliz, que dá aula para alunos do Pro Uni... que quando era da Unicemp teve aluna que era vendedora da loja de sapato, que estudava por este programa de governo com os filhos dos burgueses na universidade positivo e que hoje faz mestrado em Salamanca com bolsa por boas notas.
No agradecimento, ela fala que agradece a Luis Inácio pela oportunidade.

Falo pela Josi,,, diarista de minha mãe...que sustentava sozinha a casa anos atrás, porque não tinha emprego para o marido... Hoje todos trabalham naquela casa. A casa está quitada e registrada em seu nome... tem luz, agua, carro e todos os eletrodomesticos que eu tenho em casa... Foi Além: este ano comprou seu terreno no praia e começou a construir.... É evangélica  e toda hora me pergunta se é verdade o que dizem na igreja.... que a Dilma é isso ou aquilo.

Falo por gente que tem oportunidade hoje... que parece tão comum... Mas não era até bem pouco tempo atras. Antes, oque nego gostava era do exercito reserva, a disposição para ser mão de obra barata... Hoje escuto em reunião do Sindicato de combustível (do fregonese NOX) que ninguém quer trabalhar para receber bolsa família... meu, isso é uma mentira e uma vergonha que chega a dar pena de quem pensa assim ( alguém troca o que ganha hoje, trabalhando, para ficar em casa por 200,00 mês ?)

Tenho discutido aqui no escritório com estagiárias que tem 18 anos... que quando o Lula foi eleito tinham 10 anos... e elas acham que sempre foi assim. Que tem emprego e que renda sempre foi essa. Ganho real e política de melhoria de salário é fenômeno recente... A regra era o arrocho e a ameaça de que não se poderia perder o emprego, porque era dificil arranjar outro. Sabe o que vejo: como ando de ônibus em Curitiba vejo em todos os terminais anuncios com ofertas de trabalho. Em todos. Vejo na loja de recursos humanos um mural cheio... Tem vaga para o povo trabalhar... e as vezes não tem gente para ocupar as vagas...

Vejo uma diferença e um norte para seguirmos... Hoje, andando em Curitiba você percebe que em toda a quadra da cidade existe uma construção... Uma obra nova ou reforma... é só observar... Mas isso é coisa do governo? é evidente que é... Este governo transmitiu otimisto e confiança ao povo... Hoje o povo empresta dinheiro para fazer obra porque sabe que vai pagar.... é um ciclo excepcional que está diante do nosso nariz. Ter dinheiro, ter crédito, ter planos de longo prazo são fatos novos, que há muito não aconteciam. E isso pode melhorar, porque vem a Copa, porque vem Olimpiada, porque pode vir para cá muito e muito de bom que o mundo conhece e que aqui só a elite conhecia... Até o lazer, férias... são férias lotadas e oportunidades... gente viajando de avião pela primeira vez na vida e financiando o plano nas Casas Bahia...

É um país diferente e será que eu sou tão tolo assim que não consigo ver todo este pessimismo estampado nos jornais e nos noticiários? será que estamos em crise mesmo ? Ou será que estes jornais somente querem o que sempre quiseram... seus amigos no poder e as benesses que isso significa... Tenho uma lista de blogs para indicar aos amigos... uns que analisam as notícias dos jornais, outros que analisam os contratos da imprensa com o governo do PSDB, outros que defendem Lula e o governo e que geralmente parecem mais com o que penso do que aquilo que vejo na TV ou nos jornais.

Acho que neste ano teve dois fatos marcantes, políticos mesmo, que me fizeram mudar o conceito do governo:
1) quando visitei a Itaipú... aquilo é fantástico... mas o vídeo mostra uns cem programas sociais que estão sendo feitos através da Itaipú com todas as prefeituras. Coisa fantastica mesmo. Aí falei com o André e ele me contou algumas coisas: Quando o Lula nomeou o Samek disse para ele ... olha não é de luz que você precisa cuidar, isto a empresa já faz... vocês precisam é cuidar da Agua.... disso derivou uma série de programas, cultivando agua boa... canais estravasores ... canal da piracema... agua ribeirinha ... UNILA no pátio da Itaipu ... carro elétrico da itaipu.... MAS como eles disseram , no começo não foi fácil: quem era de carreira não achava que era da empresa esta responsabilidade... ela tinha que apenas que produzir LUZ como sempre fez... Isso foi uma guerra em todos os anos... MAS hoje você vai lá e sente o orgulho dos caras que compraram as idéias... É um show e se puder tem que ir para ver com os próprios olhos....


2) Lançamento do primeiro navio na retomada da construção naval brasileira... preparando o futuro, preparando o pré-sal e preparando conhecimento.
Quando vi a entrevista do presidente da transpetro e ele dizendo o que entendiam da industria naval ... como o Lula pensou a coisa... como ele exigiu que fosse feito investimento,,, e como o Brasil estava atrasado entendi o que era planejamento....
Em resumo ele disse que a industria do mundo hoje entrega um navio com construção em SETE blocos. Que o Brasil, na época do sucateamento estava fazendo o mesmo navio em 300 blocos e que se fosse assim seria suícidio... Só se poderia fazer com tecnologia nova e parceria... Hoje o Brasil está fazendo NAVIO com 12 blocos... sabe o que isto significa: que não é birra,  é estratégia internacional para ser competitivo, ao mesmo tempo que é aqui que está sendo feito.

São dois exemplos de alteração de foco... De perspectiva de futuro... de tratamento diametralmente oposto ao que os do ládodelá pensam: estrategicamente eles pensavam: é mais barato na China, vamo bora comprar lá.... Esta era a estratégia do Brasil....   A empresa produz luz? azar do meio ambiente, peixe e agua...

Quanto a todos os preconceitos que se tinha antes e que se manifestam agora o que há de concreto é exatamente o contrário do que pregam... Melhor explicando: acusavam que o PT ia quebrar o Brasil, que ia ser a anarquista comunista, que era ditatorial, que era o demônio... que ia ser uma vergonha lá fora ter presidente que não falava ingles (e mal falava portugues) Enfim : que ia ser um desastre....E acho que os fatos desdizem tudo o que disseram antes: O brasil não virou uma baderna, é altamente respeitado lá fora, cresceu, enfrentou crise, pagou o atrasado ao fundo, mudou a lógica de investimentos, fez fundo soberano, tem reservas, não é uma ditadura, tem liberdades de religião, imprensa, opções, enfim, tem tudo que o bom aqui que é a convivência de vários povos. São oito anos desdizendo tudo que afirmam que acontecerá de errado.

Nesta trilha há sempre pessoas que criticam... vejo agora o vídeo de Diogo Mainardi e de Marcelo Madureira... com as suas opiniões carregadas de ódio... tudo bem, é a opinião deles, mas não concordo com elas. Entendo bem ao contrário: sempre pautei os exemplos da minha vida por pessoas que de fato fazem coisas pelos outros... neste quesito entendo que há dois lados -- os que fazem alguma coisa e os que criticam, que dizem que pode ser melhor... Meu exemplo de vida neste caso tende a ser o Lula que de fato faz coisa pelos outros... e não estes outros dois seres que só criticam mas nunca produziram nada de útil a quem realmente precisa. Igual a eles leio e escuto vários todos os dias.

Nesta eleição entendo que existem lados bem definidos. E o ladodelá chama Dilma de terrorista. Quem enfrentou a Ditadura militar, colocando a sua própria vida em risco, para lutar por liberdade, democracia e especialmente por direitos do próximo EU SEMPRE CHAMEI DE HERÓI. Meus heróis e como eu os definia não mudou um centímetro.

Não me acho capaz de dar lição de moral a ninguém... Mas acho que tem pessoas que por fazerem a diferença na vida dos outros deveriam ser ouvidas.

Por isso acho que é meu dever citar a entrevista do Dr. Nocodelis.. Um Brasileiro que faz a diferença e que entendo muito mas muito qualificado para propor o debate no nível que eu gostaria de ver.

Não quis ser arrogante nem raivoso e nem querer explicar nada a ninguém. Somente explico minhas razões para votar em Dilma 13 nesta eleição, sem qualquer dúvida.

A quem quiser replicar ou mandar email, assino com meu nome completo: João Luiz Costa Lopes (
joaoluizlopes@hotmail.com)

Segue abaixo a referida entrevista:

Miguel Nicolelis: Século 21 “pode vir a ser o século do Brasil”
Miguel Nicolelis, que defende “soberania intelectual” do Brasil, anuncia apoio a Dilma Rousseff
por Luiz Carlos Azenha

Entrevistei pela primeira vez o dr. Miguel Nicolelis quando era repórter da Globo. Ele é um dos mais importantes neurocientistas do mundo. Tratamos, então, do uso de impulsos elétricos capturados no cérebro de um macaco para mover braços mecânicos, pesquisa que ele desenvolveu na Universidade de Duke, nos Estados Unidos. O potencial desse tipo de pesquisa é tremendo: permitir que paraplégicos façam movimentos com o uso de impulsos elétricos do próprio cérebro, por exemplo.

Desde então, o cientista implantou em Natal, no Rio Grande do Norte, o Instituto Internacional de Neurociência, uma parceria público-privada. E continua coletando prêmios nos Estados Unidos, alguns dos quais anunciados recentemente:


Dois meses depois de ter recebido dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos US$2,5 milhões para investir em suas pesquisas no campo da interface cérebro-máquina, Miguel Nicolelis volta a ser distinguido com um prêmio de aproximadamente US$4 milhões da mesma instituição. Os recursos devem ser aplicados no desenvolvimento da nova terapia para o mal de Parkinson que vem mobilizando o pesquisador há alguns anos e que, na avaliação dos NIH, se constitui numa pesquisa “arrojada, criativa e de alto impacto”. Miguel Nicolelis é a primeira pessoa a receber da instituição americana no mesmo ano o Director’s Pioneer Award e o Director’s Transformative R01 Award.
*****
Hoje liguei para a Universidade de Duke, nos Estados Unidos, quando soube por e-mail que Nicolelis tinha decidido anunciar publicamente seu apoio à candidatura da ex-ministra Dilma Rousseff.

Ele afirmou que faz isso por acreditar que Dilma representa um projeto de país em linha com o que acredita ser desejável para o Brasil: o desenvolvimento de uma “ciência tropical” e de um conhecimento voltado para garantir a soberania nacional. O áudio e a transcrição aparecem abaixo:

Transcrição:
Por que é que o sr. decidiu anunciar publicamente seu apoio à candidata Dilma Rousseff?
Porque desde as eleições do primeiro turno eu cheguei à conclusão que essa é uma eleição vital para o futuro do Brasil e eu estou vendo um debate que está se desviando das questões fundamentais na construção desse futuro e dessa maneira eu achei que como cientista brasileiro, mesmo estando radicado no Exterior — mas que tem um projeto no Brasil e tem interesse que o Brasil continue seguindo este caminho — eu achei que era fundamental não só que eu mas que todos que pudessem se manifestassem a favor e fizessem uma opção pelo futuro que a gente acredita que é o correto para o nosso país.

Que futuro é esse?
É o futuro da inclusão social, o futuro em que as crianças que ainda nem nasceram possam ter a educação, saúde, ciência, tecnologia e a possibilidade de construir os seus sonhos pessoais sejam eles quais forem. Futuro que nós, a sua e a minha geração não tiveram. E um futuro que não leve o Brasil a retornar a um passado recente onde nós tinhamos, além da insegurança financeira, uma total falta de compromisso com o povo brasileiro e com a coisa brasileira. Então, nesse momento para mim essa é uma eleição vital, é um momento histórico para o Brasil. Eu viajo pelo mundo inteiro e eu nunca vi o nome do Brasil e a reputação do Brasil tão alta (inaudível) e este é o momento de deslanchar de vez e não voltar para o passado.

Fale um pouquinho do projeto que o sr. tem em Natal pra gente e da importância que o sr. acredita que o governo Lula teve — eu já li muito o que o sr. escreveu a respeito — para que esse projeto fosse implantado.
Nosso projeto é o primeiro projeto no mundo que usa a ciência como agente de transformação social – ciência de ponta.
Quando, oito anos atrás, comecei esse projeto… fui a São Paulo, me disseram que não havia esperança de fazer nada igual fora de São Paulo, porque 80% da produção científica do Brasil está concentrada no estado de São Paulo.Eu usei isso como um diagnóstico dos erros passados, porque um país que quer se desenvolver como uma federação e que quer oferecer cidadania ao seu povo não pode concentrar a produção de conhecimento de ponta e a disseminação de conhecimento de ponta num único estado da União.
E aí eu propus de levar esse projeto de ponta — que é fazer neurociência como se faz em qualquer lugar do mundo, em lugares que são, que tem a dianteira da fronteira dessa área no mundo — na periferia de Natal, usando essa ciência para desenvolver uma série de projetos sociais que permitem que a criança tenha um projeto educacional desde a barriga da mãe — que faz o pré-natal dentro de nosso campus do cérebro — até a pós-graduação na universidade pública.

E o primeiro grande parceiro desse projeto foi o governo federal, foi o presidente Lula e a seguir quem eu considero o maior ministro da Educação que o Brasil jamais teve, dr. Fernando Haddad, que transformou não só as políticas públicas mas o pensar do Brasil em educação, concluindo e chegando à conclusão que toda criança brasileira tem direito a perseguir seus sonhos intelectuais e não só ser abandonada em alguma escola técnica para servir ao mercado de trabalho. Que ela pode ser física, química, bióloga. É isso o que nós fazemos.

Nós criamos um projeto de educação científica que é principalmente um projeto de educação para cidadãos, que vão lá no turno oposto da rede pública, são mil crianças no Rio Grande do Norte, 400 crianças no interior da Bahia — na terceira escola que nós acabamos de abrir — e nós vamos ampliar isso para 2 mil crianças no ano que vem e se tudo der certo para 4 mil crianças em 2012. E esse projeto só foi possível porque o Ministério da Educação e o governo federal acreditam, como a gente, que essas crianças da periferia de Natal, do interior da Bahia, do sertão do Piauí, do Amazonas, de Roraima, também tem direito à educação de altíssimo nível e a perseguir seus sonhos intelectuais.

E como é que isso se conecta com a campanha de Dilma Rousseff?
Essa é uma visão de país onde a cidadania é levada a todos os brasileiros, onde todos os brasileiros tem a oportunidade de acesso ao conhecimento e à informação para fazerem e tomarem decisões por si mesmos, de acordo com a sua própria visão do mundo. Eu acredito que a candidatura da ministra Dilma possibilita viabilizar esse futuro para o Brasil e a candidatura oposta, a candidatura do partido de oposição,  ela basicamente não tem mensagem alguma para o resto do Brasil, ela tem mensagem para a sua audiência, que é restrita, na minha opinião, ao estado de São Paulo e talvez até a cidade de São Paulo, não existe projeto de Brasil na outra candidatura. Enquanto a futura presidente do Brasil, Dilma Rousseff, tem um projeto de Nação que é o que sempre faltou para o nosso país.  Nós sempre tivemos projetos de alcançar o poder e nunca um projeto de Nação. E o que o presidente Lula fez que foi colocar o Brasil nesse caminho, só pode ser, na minha opinião, continuado, com as políticas públicas que a ministra Dilma tem proposto e que eu acredito vai dar continuidade. Se nós não tivermos essa disposição de ter um projeto de Nação, se nós optarmos como país pela outra proposta, eu temo que infelizmente o Brasil vai perder sua chance histórica de se transformar no país que todos nós queremos ter.

Dr. Nicolelis, qual é a importância do conhecimento que o sr. está transferindo — o sr. está em Duke, agora?
Estou aqui em meu laboratório da Duke [University, na Carolina do Norte] nesse momento, mas quarta-feira já estou viajando para o Brasil, para Natal, onde nós montamos um centro de pesquisas de ponta, de neurociências. Nós estamos transferindo conhecimento, inovação, do mundo todo… Nós estamos a ponto de receber o que vai ser um dos mais velozes supercomputadores do Hemisfério Sul, doado pelo governo da Suiça, um dos maiores centros de tecnologia do mundo – a Escola Politécnica de Lausanne, que fechou um convênio com nosso instituto de cooperação internacional – então nós estamos criando em Natal, na periferia de Natal, num dos distritos educacionais mais miseráveis do país, um centro de disseminação de conhecimento de ponta que está transformando não só a neurociência brasileira como a forma de educar as crianças e a forma de trazer as mães destas crianças para dentro de um projeto de inclusão e de cidadania.

Nós estamos construindo lá o primeiro campus do cérebro do mundo, não existe nada igual em nenhum lugar do mundo. E quando o governo suiço veio visitar as obras, veio ver o que nós estávamos fazendo, eles ficaram completamente encantados. Então, eles decidiram fechar um acordo de colaboração conosco ao mesmo tempo em que eles estão fechando um acordo com a [Universidade de] Harvard. Ou seja, nós ficamos em pé de igualdade com a maior universidade do mundo pela inovação da proposta que nós temos na periferia de Natal, provando que em qualquer lugar do Brasil algo desse porte pode ser feito.

Dr. Nicolelis, além do governo federal e agora do governo da Suiça, existem outras entidades ou instituições privadas colaborando com esse projeto?
Ah sim, este é um projeto privado. Mais de dois terços dos nossos fundos e do nosso suporte financeiro vem de doações privadas de brasileiros que moram fora, no Exterior, de fundações europeias, americanas, nós temos parcerias — inúmeras — pelo mundo afora e a beleza disso é que para cada real investido pelo governo federal nós conseguimos coletar quase três reais privados no Exterior e mesmo dentro do Brasil — o hospital Sírio Libanês, por exemplo, é um de nossos parceiros, a Fundação Lily Safra, da brasileira Lily Safra, é uma outra parceira. Nós conseguimos captar para cada real investido publicamente quase três reais privados, mostrando que é possível, sim, realizar parcerias público-privadas que tenham um fundo e um escopo social tão grande quanto este projeto.

Dr. Nicolelis, qual é a importância de o Brasil desenvolver as suas próprias tecnologias em conjunto com universidades de outros países para a soberania nacional e para a capacidade do país inclusive de reduzir a importação de equipamento fabricado fora do Brasil?
Ah, sem dúvida, eu acho que a Petrobras é o grande exemplo, a Petrobras e a Embraer. Nós precisamos de Googles, Microsofts, IBMs brasileiras. Nós precisamos transferir o conhecimento de ponta gerado pelas nossas universidades e pelos nossos cientistas — e o Brasil tem um exército de fenomenais cientistas dentro do Brasil e espalhados pelo mundo que estão dispostos, como eu, a colaborar com o Brasil. Nós temos que criar uma indústria do conhecimento brasileira. É uma questão de soberania nacional. A questão que me chamou a atenção agora, no começo da campanha do segundo turno, a questão da Petrobras, ela se aplica à indústria do conhecimento, que vai ser a indústria hegemônica na minha opinião, no século 21, que pode vir a ser o século do Brasil.

Mas, para isso, nós temos que investir no talento humano. Nós temos que criar formas dessa molecada — como as nossas crianças de Natal — de se transformar em cientistas, inventores, de uma maneira muito mais rápida e ágil do que as formas tradicionais que requerem todo esse cartório até você receber um doutorado e ser reconhecido oficialmente como cientista. Eu estou encontrando crianças no nosso projeto, por exemplo, de 17, 18 anos, que estão sendo integradas às nossas linhas de pesquisa antes mesmo delas entrarem na universidade, porque elas tem o talento científico, talento de investigação, curiosidade e que podem dar frutos muito mais rápidos do que a minha geração deu para o país.

Mas este investimento que pode ser feito com os fundos que vão vir do Fundo Social do Pré-Sal tem que ser feitos para revolucionar a ciência brasileira e criar uma coisa que eu gosto de chamar de “ciência tropical”, que é a ciência do século 21, aplicada às grandes questões da Humanidade — energia, ambiente, suplemento de comida, suplemento de água, novas formas de disseminação democrática da informação — tudo isso faz parte do escopo dessa “ciência tropical” em que o Brasil tem condições plenas de ser, se não o líder, um dos grandes líderes deste século.

Dr. Nicolelis, onde que está aí o nexo entre o que o sr. acabou de dizer, que o sr. mencionou, e a riqueza da biodiversidade brasileira, que ainda não é explorada?
Nós nem sabemos o que nós temos, Azenha. Nós nem tivemos a chance de mapear essa riqueza. Todo mundo fala dela mas ninguém pode dar uma dimensão. Então, esse discurso que eu ouço, ambientalista, superficial, que foi caracterizado no primeiro turno, inclusive, da eleição, ele não serve para nada, porque ele não aprofunda nas questões vitais.

As questões vitais é que a soberania do Brasil também depende de investimentos estratégicos no mapeamento das riquezas que nós temos, do que pode ser feito para o povo brasileiro em termos de novos medicamentos, novas fontes alimentares, novas fontes de energia. Existem dezenas de sementes oleaginosas do semi-árido que são não-comestíveis, que são muito mais eficientes na produção de óleo do que a mamona, por exemplo, que poderiam ser usadas em projetos de parceria de cooperativa no interior da caatinga do Brasil, para se produzir óleo biocombustível para trator, caminhão, que aliviariam tremendamente os custos da produção alimentar, familiar, nessa região do Brasil.

Isso precisa ser explorado, precisa ser mapeado com investimentos em pesquisa básica, em estudos de genômica funcional dessas plantas, tentar entender porque elas conseguem produzir esses óleos de alto valor energético e tentar transferir isso para a economia do Brasil. Existe toda uma economia que pode ser altamente sustentável, que pode preservar muito melhor o ambiente do que nós estamos fazendo até hoje e que pode servir de retorno em empregos e conhecimento que ampliariam ainda mais a matriz renovável energética brasileira.
Então, são coisas que estão na nossa cara e que eu acho que só uma política voltada para o Brasil, uma política que dê continuidade ao que o presidente Lula iniciou nestes oito anos, vai ter condições de manter dentro do Brasil. Porque existem evidentemente interesses enormes nessas riquezas nacionais, existe um interesse enorme nos cérebros brasileiros que estão desenvolvendo essas ideias e nós temos que manter isso de uma maneira agregada ao Brasil e não simplesmente dar isso de mão beijada para o primeiro que bater na porta com uma oferta ridícula de privatização ou da venda de nosso patrimônio intelectual para fora do Brasil.


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