Meu caro Demétrio Magnoli,
Seu artigo na no Globo– Um mito de papel - chega a ser assustador. Uma desconstrução teórica, recheada de cópias dos clichês disparados pela grande imprensa. Vestido com o fraque do academicismo e com uma profusão de desconsiderações contra Lula, o PT e a esquerda. Mas, principalmente , contra a maior parte da população brasileira. A que não lê manchetes, muito menos graduados articulistas bissextos.
Quando digo assustador é porque, a cada dia que passa – e especialmente durante esta eleição – uma avalanche de textos na mídia me exibe pessoas que parecem habitar um país diferente do meu.
A começar pelo título. Você é outro que decidiu se apropriar da História. Sem contar a total falta de acuidade e de isenção para analisar a figura do presidente.
É muito difícil para alguns próceres da imprensa e da “alta inteligência” brasileira entender Luís Inácio. Ele não nasceu para prestar conta ao jogo de xadrez mental dos doutores. Lula é o caboclo que fala fundo, falando o raso. É um personagem sagaz, esperto, desculturado e permanentemente humano em acertos e erros. Um sujeito assim, assim, roseano do sertão de Pernambuco, cabra da peste pendurado num poste que não era para ser seu. Querer transformá-lo em mito nunca foi o mote de sua platéia. Lula é um emblema.
Seu texto, carregado pela erudição emparedada por citações e significados, tem a arrogância típica dos escritórios. Mas, quando precisa, desce fácil à linguagem dos bordéis, rebaixando os personagens que não lhe agradam: Dilma Rousseff, candidata a presidente, virou duas vezes a “mulher do Lula”. O carimbo que você lhe põe é típico de sua classe, Demétrio. Não repito arrogância para não ficar redundante. Dilma Rouseff tem nome.
O Brasil que frequento não sai nas páginas do Globo. O Brasil tingido, escrachado, cujos coadjuvantes deveriam ser os protagonistas, só tinha lugar no tanque e na pia da cozinha. Agora entrou na sala. Este é o Brasil que admira Lula. É o da mesma raça dele: brincalhão, gaiato, zombeteiro, carinhoso e às vezes brigão. E muito ruim de palavreado. Quando leva uma televisão pra consertar não fala que está estragada, fala que está “sem feição e sem proseado”. Ou seja, sem imagem e sem som. Pra entender isso é preciso ter comido calango rosado de Minas ou pastel de posto de gasolina em Juazeiro.
Um Brasil às vezes vaidoso que, em sua pobreza simbólica, pede um presente de aniversário. Como Lula fez.
Não exagere, Demétrio. Tem coisa pior no mundo.
Seria mais fácil, quando você simplifica a esquerda brasileira, dar logo nome às reses. Aos meus ouvidos parece que você quis dizer Niemeyer, Aldir Blanc, Ziraldo, Eric Nepomuceno, Leonardo Boff etc. Transcrevo: “pela vertente dos intelectuais de esquerda que renunciaram às suas convicções básicas(...) Eles retrocederam à trincheira de um anti- americanismo primitivo e, ecoando uma melodia tão antiga quanto anacrônica, celebram uma imagem de um líder salvacionista que fala ao povo por cima das instituições da democracia.”
Ora, Demétrio, quantos chavões! Lula sempre foi um democrata, do chapéu às meias.
Você só deve ler os jornais das quatro famílias (por falar em família, lembrei-me de Marlon Brando). Vá na internet, descubra onde está hoje a imprensa independente do Brasil. A única pessoa que você deu nome, ao falar da esquerda, foi a Marilena Chauí. Rebaixando-a imediatamente a “pós-mensalão”. Saco de pancada fácil, feito o José Dirceu. Marilena vai ser, na História, com todos os seus defeitos, uma expressão brasileira. Nítida e beligerante como sempre o foi.
Não adianta seu vaticínio, ninguém mais arranca isto dela. Sugiro: desanque o Chico Buarque. Tire a toga, Demétrio.
Você fala em jornalismo honesto e eu pergunto: qual? O que você lê e o que estampa a vinte quatro quadros por segundos qualquer farsa que lhe for conveniente? O casal da Globo vibrando diante de uma foto borrada lhe traz mais prazer do que uma bolinha de papel quicando na cabeça de um político que se deixou ridicularizar ao longo da campanha?
Demétrio, não importa o resultado de domingo no qual, pelo que vejo, você opta pelo Serra ou pelo voto em branco.
Importa é que você , com todos seus considerandos e finalmentes, não vai ser outro a tentar rebaixar Lula à poeira da História.
E acrescento: Lula não “urra”, Lula grita. Erudições e submissão de Lula à sua crítica – e à de milhões de brasileiros- é uma pretensão pra cair no vazio.
Eu me apresento como Carlos Torres Moura, aposentado, 62 anos, segundo grau, artigo 99. Ex-bancário. Não para me fazer de humilde ou inferior. Só como referência. Lamento que O Globo – e a imprensa que carrega o ranço do baronato – crave no final de cada artigo uma identificação de antemão qualificatória: Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia Humana.
Já passou da hora de os brasileiros desqualificados deixarem de abaixar a cabeça por serem pedreiros, bancários, comerciários, açougueiros, camelôs, empregadas domésticas, comerciários, pipoqueiros, entregadores de pizza, porteiros de edifício, diaristas, comerciantes, padeiros, frentistas, operadores de telemarketing, faxineiros, lavradores, palhaços de circo, professores, carteiros, catadores de lixo, biscateiros, policiais, estivadores, garçons, camareiros, bombeiros, comerciantes, eletricistas, lanterneiros, marinheiros......
Carlos Torres Moura
Além Paraiba-MG
Moura, já te disse que sou seu fã?!
ResponderExcluirParabens Moura pela lucidez politica e cidadâ!!!
ResponderExcluirÉ inacreditável que a grande mídia ainda queira subestimar a inteligencia e a capacidade de discernimento do povo brasileiro.
Adoro teus escritos.
Este Moura aprendeu com o Lula, fala pouco e diz tudo!
ResponderExcluirCaro Sr.Carlos Moura, imagina um coração "sorrindo", o meu! Valeu!
ResponderExcluirObrigada por compartilhar conosco, obrigada por este espaço!
Paz e Luz!
abraço :)
P.s: esse hábito de te chamar de Sr, espero que não se importe. É que sou de um tempo em que respeito, moral e ética eram valores importantes... Bom, no Brasil que eu vivo(e o Senhor também :) esses valores nunca deixarão de existir...
O PHD diz, referindo-se a Golbery, que Lula é “homem que destruirá a esquerda no Brasil”. Se essa esquerda apontada for a composta por Fernando Gabeira e Roberto Freire tudo bem, já foram tarde.
ResponderExcluirSe estiver se referindo ao PT, vamos conversar, porque apesar do decreto de que "nada resta de aproveitável no maior partido de esquerda do país", o PT reelegeu em primeiro turno os governadores da Bahia, e de Sergipe, e venceu, também em primeiro turno, as eleições no Rio Grande do Sul e no Acre. Ainda disputa o segundo turno dos governos do Distrito Federal e do Pará. Na Câmara dos Deputados passará dos atuais 79 pra 88 Deputados Federais e no Senado de 8 para 14 Senadores.
Isso sem citar o significativo crescimento do PSB e de outros partidos aliados.
Fica a pergunta, com base em quê, o PHD fala em destruição do Partido dos Trabalhadores e da esquerda brasileira?