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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Moura x Miriam Leitão em 26 out ("Imprensa em foco")

Prezada Miriam,
Comparar questões de segurança nos EUA - papéis do Pentágono, guerra no Iraque, segredos de estado - com a discussão sobre imprensa x governo no Brasil é um exagero desproposital. Não é este tipo de " censura" que está em jogo entre nós.
Seu artigo é interessante, porque vale pro outro lado da moeda. Quando, por exemplo, você fala da resistência dos blogueiros e twitteiros em Cuba. Você já viu que está acontecendo o mesmo no Brasil?
Só que aqui os internautas não resistem ao governo, mas ao poder absoluto que a imprensa (para a qual você trabalha) ganhou nos últimos tempos. Ou melhor, tomou.
Nossa grande imprensa raramente ouve os acusados, nunca dá direito de resposta, apoia candidato sem declarar, não publica uma carta que faça reparos a erros grosseiros em manchetes e matérias, não alardeia na primeira página resultados favoráveis a seus desafetos. Vocês são deuses e não sabíamos.
Controle não é necessariamente censura, Miriam. Existem leis de imprensa em qualquer país civilizado, quem sou eu pra te ensinar. O que é nefasto é o fato de quatro famílias dominarem a informação nas duas maiores cidades do Brasil, uma delas sendo dona de jornal e da maior rede de televisão do país. E ficar tudo por isso mesmo.
Tudo tem controle: a justiça e a polícia têm suas corregedorias, as concessionárias de serviços públicos têm as agências, a publicidade tem o Conar, os profissionais liberais têm suas Ordens e Associações, os administradores públicos têm os TCUs, o presidente tem o Congresso e o STF e por aí vai.
Vivem exigindo que Lula peça desculpas por suas verborragias públicas, mas vocês só se retratam quando a justiça lhes põe a canga da lei. Venho fazendo seguidas correções ao Globo e uma até a você (quando publicou que Dilma perdeu no primeiro turno no RS). Todas caíram no poço da indiferença. Deuses.
Ninguém é dono da voz do mundo, nem Lula, nem vocês. E democracia pra valer é moeda rara, Míriam.
Quando você diz que os governantes não devem fazer tão pouco da inteligência dos jornalistas, eu replico: que vocês também não façam da nossa.
Com consideração,
Carlos Torres Moura
Além Paraíba-MG

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