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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Moura x Merval - episódio de 21 de outubro de 2010 (Instintos baixos)

Prezado Merval,

"O desespero me tirou a consciência
E no delírio que me envolve esta paixão
Eu vou tramando no meu cérebro nervoso
Uma maneira de magoar teu coração"
(Adelino Moreira em " Revolta", gravada por Nélson Gonçalves)


Primeiro, gostaria de lhe cumprimentar pela correção que você publicou sobre o " inexistente" debate da Record em 2006. Errar é normal, ainda mais para quem está na fogueira das emoções de uma eleição tão movimentada . O que não é legal é errar e ainda acrescentar uma mentira própria ao erro. Vejamos o que você escreveu:
" Em 2006, o debate da Record no segundo turno não foi realizado, e a campanha tucana atribuiu o cancelamento a uma interferência da campanha petista" .
Sua coluna de hoje (21/out) é a catilinária de sempre contra o PT, Dilma e Lula, à qual já nos acostumamos. O que me entristece é que que você o faz sem a serenidade que é necessária a um colunista de um jornal tão importante. Você não informa Nerval, você torce.
Quando fala da agressividade da campanha não há uma menção sequer apontando quando isso começou. Você omite a informação dita abertamente por Dilma num debate sobre as sujas difamações comandadas por Índio da Costa junto a grupos religiosos. Você nunca comentou sobre Mônica Serra acusando Dilma de " querer matar criancinhas". Pelo menos não com todas as letras.
Foram fatos como esses que deflagraram a baixaria e o ódio. Colocar o aborto na pauta tirou muitos votos de Dilma, você sabe. Até então, a coisa andava só nas sucessivas denúncias de corrupção criadas pela Veja, pelo Estadão e pela Folha, de resto previsíveis, desde que o eixo Rio-S.Paulo começou a ter que dividir o bolo da propaganda oficial com o resto do Brasil. Até então nenhum dos candidatos havia dado golpes baixos um no outro.
Hoje você fala que os petistas " tentam confundir a opinião pública", como se você, seu jornal e outros pesos pesados da grande imprensa não estivessem fazendo o mesmo em tempo integral. Falsamente ingênuo, diz que Aécio e o Estado de Minas negaram as informações de Amaury Ribeiro Jr. como se isso fosse suficiente para inocentá-los. Você queria que eles confessassem? Quem faria isso, Merval? Nem Madre Teresa de Calcutá, que não era tão santa assim. Quem o é?
E não estou aqui acusando ninguém, não é de minha competência, é da polícia e da justiça.
E mais: você sabe perfeitamente que não são só os ativistas da campanha petista que espalham calúnias pela internet. Os serristas também foram os que começaram a soltar o esgoto já há meses: Dilma guerrilheira-assassina até hoje paira na cabeça de gente menos informada.
Tenho a impressão de que nosso diálogo já virou monólogo, pois sua última resposta resumiu-se a uma frase enigmática que até agora não consegui decifrar. Meu QI não é lá essas coisas.
Em tempo: não pense que eu aplauda o gesto agressivo do militante em cima do Serra. É mais que condenável moralmente, é coisa de polícia.
Mas, por favor, não queira doravante nivelar os 47 milhões de eleitores que votaram em Dilma a um grupo de radicais aloprados. Seria fazer pouco de uma parcela imensa do povo brasileiro.
Atenciosamente,
Carlos Torres Moura


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