Páginas

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O Edgard e a Casa da Rua Alferes

Enviado por: Vanderlei Pequeno

O prefeito de Cataguases, em entrevista a uma emissora de rádio, disse que preferiu comprar o Edgard Cine-teatro, em vez de adquirir a Casa da Rua Alferes.  Alegou ter tomado essa decisão por julgar o cinema mais importante para o município. Mero exercício de retórica e que carece de fundamento.

O cinema foi projetado pelos arquitetos Aldary Toledo e Carlos Leão na metade do século passado (1953). O prédio é constituído pelo Edgard Cine-Teatro, no térreo, Secretaria de Cultura, pavimento superior e lojas subterrâneas. Foi tombado pelo Iphan – Instituto do Patrimônio Artístico Nacional por conta de suas características modernistas. Sem dúvida, trata-se de uma arrojada construção. Oferece acomodação para 980 pessoas, sem contar o “balcão”, atualmente desativado; possui um belo e amplo palco, camarins e bastidores.

Já a Casa da Rua Alferes, embora não tenha merecido maior atenção e estudos do Iphan, provavelmente, teve sua construção iniciada ainda no final do século XIX. Foi a terceira residência da zona urbana do município.  O imóvel, agora em “terra nua”, fica no número 130 da Rua Alferes Henrique José de Azevedo. Pertence aos herdeiros do senhor Antônio Januário Carneiro, antigo, serventuário da Justiça. Os que ali moravam davam ênfase às características históricas da construção, hoje demolida: alicerce (ou base), construído com a sobreposição de grandes pedras, provavelmente com mãos escravas; telhado em estilo colonial; pé-direito elevado; muitos cômodos, todos janelados, não faltando os destinados às visitas; varanda com acessos laterais; cozinha com fogão a lenha e quintal com fruteiras produzindo em profusão. Tudo reproduzia ali a estética da época dos que escapavam à realidade de uma vida mais simples, sem maiores fortunas.

Até meados do ano, a Casa da Rua Alferes foi objeto de desapropriação pública, processo iniciado ainda no governo Tarcísio Henriques. Num de seus últimos despachos, em meados de 2010, a juíza concedeu sua posse ao município, mediante depósito judicial de seis parcelas de R$ 40.200,00. A prefeitura, em petição, renunciou a esse direito alegando falta de recursos. O processo foi encerrado e é fato consumado que nosso prefeito deixou de comprar por R$ 240 mil, em seis vezes, um imóvel que, hoje, já deve ter sido negociado na iniciativa privada por R$ 750 mil. É preciso deixar registrado também que o Superintendente do IPHAN Minas, senhor Leonardo Barreto, esteve no imóvel e comprometeu-se a buscar recursos federais para a sua restauração, caso o município efetivasse a sua compra e o repassasse para o Governo Federal. O instituto tinha a intenção de abrigar ali o seu escritório de representação, uma reivindicação antiga do Conselho de Engenharia de Cataguases.  
         
O Cine - Edgard também entrou em processo de desapropriação no mês passado. Ainda não foi adquirido, como anunciado. O Decreto foi publicado quando a proprietária, residente na cidade de Ubá- MG, pegando a onda da divulgação de uma infundada nota do jornalista Anselmo Góis no O Globo, encaminhou ofício à prefeitura, comunicando não ter interesse de manter o contrato de locação com o município. A senha de que pretendia vender o imóvel estava dada e a Procuradoria corretamente, decretou a sua desapropriação.

Não há dúvidas de que o valor pecuniário do Edgard Cine-Teatro, a ser atribuído pela justiça para conceder a sua posse provisória ao município, será bem maior que o estabelecido para a aquisição da Casa da Rua Alferes. Nosso prefeito, o mesmo que abriu mão de comprar um imóvel por R$ 240 mil, em seis parcelas alegando não ter dinheiro, espero, já deve ter merecido do governador de Minas, Antônio Anastasia, um compromisso de aporte desses recursos para fazer frente à demanda da compra do cinema. Caso contrário, estaremos convivendo com mais um blefe público e o processo de desapropriação do Edgard Cine-Teatro seguirá o destino dado ao da Casa da Rua Alferes: será encerrado e o prédio poderá também ficar sob os desígnios da iniciativa privada e sua lógica arrecadadora. Minha esperança é de que o governador tucano, vencido nas urnas em nossa cidade, já tenha “digerido o sapo“ e agora esteja pensando em aqui investir, como estratégia de conseguir reconhecimento político e votos no futuro. Será?  

Um comentário:

  1. ô rapaz,
    cataguases não era a terra dos artistas? eles desesistiram ou tá faltando o quê? que cultura é essa?

    ResponderExcluir