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segunda-feira, 28 de março de 2011

Caetano Veloso : quando a lambada é no próprio couro


Por Carlos T. Moura



Caetano Veloso está sentindo no lombo a dor do relho que, em costa alheia , não percebera.

Em sua coluna de domingo, 27/03, no globo, saiu enfurecido em defesa da irmã Maria Bethânia, vítima de uma campanha sórdida de blogueiros e redatores da nossa calhorda e medíocre grande imprensa.

Por causa de um projeto aprovado pelo Ministério da Cultura, através da Lei Rouanet, que prevê a captação de R$ 1,3 milhão para o blog de Bethânia, criou-se na internet (e na mídia impressa) um carnaval udenista em defesa do dinheiro público.

O bloco sujo veio composto pelos “clóvis” de sempre, batendo nos desafetos suas bexigas de bosta. Entre eles os indefectíveis Ricardo Noblat(globo) e Reinaldo Azevedo(veja). Outros menos famosos entraram rapidamente no cordão, primeiro induzindo o leitor ao erro de pensar que a grana seria disponibilizada pelo MinC. Depois, mesmo que justificando tratar-se de captação de recursos junto à iniciativa privada, com base em renúncia fiscal (com baixos percentuais de dedução no imposto de renda), a campanha se estendeu, num processo de achincalhe à figura de Bethânia e do diretor dos filmetes de poesias que fariam parte do blog, o cineasta Andrucha Waddington.

Talvez agora Caetano comece a entender o que não entendeu durante a campanha eleitoral. Foi ele que repetiu, em sua “marinice” assumida em torno da candidata verde (em todos os sentidos), a ladainha dos jornais sobre Lula, especialmente quando este reagia à orquestração desqualificatória de sua pessoa.

Caetano chegou a afirmar, na primeira crônica em que jogou purpurina no governo Dilma, que estava cansado do palavreado tonitroante do metalúrgico (as palavras foram outras, mas o sentido é o mesmo). Muito do que o compositor de “Cê” dissera antes da eleições já eram clichês advindos das manchetes rancorosas contra o presidente. Incluindo sua varada n´água ao “acusar” Lula de analfabeto, ou de semi, sei lá (embora não existam “semi-analfabetos” e sim “semi-alfabetizados”).

Seu texto é praticamente irretocável, ao defender a irmã. Quem de nós não o faria? O que ele talvez não tenha notado é que Bethânia entrou nessa história como uma “inocente útil”. Caetano não se tocou quanto ao obscuro objeto do desejo que visava, simplesmente, somar mais um aos mil factóides diariamente criados pela escola de samba sustentada pelos “bicheiros das prensas”, os donos das quatro publicações de influência nacional, enfileirados para a desqualificação do PT e de Dilma.

A manobra começou pela tentativa de jogar na sarjeta a ministra Ana de Holanda e,por tabela, botar o irmão lulista no camburão, nada mais nada menos que Chico Buarque.

Mas, ao fim e ao cabo, tudo é uma fabricação de escaninhos para chegar ao “judas” que se desencarna e que desengonçou, desestabilizou, redesenhou e enquadrou o quinto poder das quatro “famiglias” que há décadas mandam e desmandam no país. Um tal de Lula da Silva.

Nem a ditadura militar, fardada em sua prepotência, teve a coragem dele.

Se eu pudesse sopraria aos ouvidos de Caetano a desnecessidade de citar Nietzsche para tratar do assunto. Ou de buscar suporte no Hermano Vianna. Pediria-lhe, tão e simplesmente, que refletisse sobre a briga que ele está comprando, mesmo tendo o foro privilegiado, ao escrever para um órgão do esquemão.

Caetano, gênio da raça: se você sentiu no fígado como eles tratam um doce de coco elegante como a Bethânia, imagine o que são capazes de fazer com um líder sindical do ABC - gordo, desaforado e que nunca deve ter lido Fernando Pessoa.

Que se elegeu na dificuldade do voto democrático, segurou o país nas rédeas por oito anos e, o que mais eles odeiam: fez a coisa dar certo.

Notas:

- o texto de Caetano está aí em baixo, na íntegra

- no lugar dele, não escreveria o nome de Reinaldo Azevedo (mesmo com o bom humor do “nem morta”); de blogueiro e de jornalistas serviçais cuidamos nós, escribas sujos e desconhecidos da internet; Caetano é muito grande para deixar às mãos dos pesquisadores do futuro uma polêmica com um assalariado da família civita;

- entendi perfeitamente que a veia de Caetano crescesse ao se referir ao Noblat que, sob o manto de publicar e de gostar poesia e jazz , sempre foi um jornalista que agiu - escrevendo bem - aos ventos momentâneos de seus patrões ;

-mas nunca suporia que Caetano fosse capaz de cravar uma frase como fez sobre o Noblat, insinuando uma “parceria extra-curricular(!) com a jornalista Monica Bergamo” - parece que a pancada atingiu-lhe outras partes, além do fígado.




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Caetano Veloso - Bethânia

Não concebo por que o cara que aparece no YouTube ameaçando explodir o Ministério da Cultura com dinamite não é punido. O que há afinal? Será que consideram a corja que se “expressa” na internet uma tribo indígena? Inimputável? E cadê a Abin, a PF, o MP? O MinC não é protegido contra ameaças? Podem dizer que espero punição porque o idiota xinga minha irmã. Pode ser. Mas o que me move é da natureza do que me fez reagir à ridícula campanha contra Chico ter ganho o prêmio de Livro do Ano. Aliás, a “Veja” (não, Reinaldo, não danço com você nem morta!) aderiu ao linchamento de Bethânia com a mesma gana. E olha que o André Petry, quando tentou me convencer a dar uma entrevista às páginas amarelas da revista marrom, me assegurou que os então novos diretores da publicação tinham decidido que esta não faria mais “jornalismo com o fígado” (era essa a autoimagem de seus colegas lá dentro). Exigi responder por escrito e com direito a rever o texto final. Petry aceitou (e me disse que seus novos chefes tinham aceito). Terminei não dando entrevista nenhuma, pois a revista (achando um modo de me dizer um “não” que Petry não me dissera — e mostrando que queria continuar a “fazer jornalismo com o fígado”) logo publicou ofensa contra Zé Miguel, usando palavras minhas.


A histeria contra Chico me levou a ler o romance de Edney Silvestre (que teria sido injustiçado pela premiação de “Leite derramado”). Silvestre é simpático, mas, sinceramente, o livro não tem condições sequer de se comparar a qualquer dos romances de Chico: vi o quão suspeita era a gritaria, até nesse pormenor. Igualmente suspeito é o modo como “Folha”, “Veja” e uma horda de internautas fingem ver o caso do blog de Bethânia. O que me vem à mente, em ambas as situações, é a desaforada frase obra-prima de Nietzsche: “É preciso defender os fortes contra os fracos.” Bethânia e Chico não foram alvejados por sua inépcia, mas por sua capacidade criativa.

A “Folha” disparou, maliciosamente, o caso. E o tratou com mais malícia do que se esperaria de um jornal que — embora seu dono e editor tenha dito à revista “Imprensa”, faz décadas, que seu modelo era a “Veja” — se vende como isento e aberto ao debate em nome do esclarecimento geral. A “Veja” logo pôs que Bethânia tinha ganho R$ 1,3 milhão quando sabe-se que a equipe que a aconselhou a estender à internet o trabalho que vem fazendo apenas conseguiu aprovação do MinC para tentar captar, tendo esse valor como teto. Os editores da revista e do jornal sabem que estão enganando os leitores. E estimulando os internautas a darem vazão à mescla de rancor, ignorância e vontade de aparecer que domina grande parte dos que vivem grudados à rede. Rede, aliás, que Bethânia mal conhece, não tendo o hábito de navegar na web, nem sequer sentindo-se atraída por ela.

Os planos de Bethânia incluíam chegar a escolas públicas e dizer poemas em favelas e periferias das cidades brasileiras. Aceitou o convite feito por Hermano como uma ampliação desse trabalho. De repente vemos o Ricardo Noblat correr em auxílio de Mônica Bergamo, sua íntima parceira extracurricular de longa data. Também tenho fígado. Certos jornalistas precisam sentir na pele os danos que causam com suas leviandades. Toda a grita veio com o corinho que repete o epíteto “máfia do dendê”, expressão cunhada por um tal Tognolli, que escreveu o livro de Lobão, pois este é incapaz de redigir (não é todo cantor de rádio que escreve um “Verdade tropical”). Pensam o quê? Que eu vou ser discreto e sóbrio? Não. Comigo não, violão.

O projeto que envolve o nome de Bethânia (que consistiria numa série de 365 filmes curtos com ela declamando muito do que há de bom na poesia de língua portuguesa, dirigidos por Andrucha Waddington), recebeu permissão para captar menos do que os futuros projetos de Marisa Monte, Zizi Possi, Erasmo Carlos ou Maria Rita. Isso para só falar de nomes conhecidos. Há muitos que desconheço e que podem captar altíssimo. O filho do Noblat, da banda Trampa, conseguiu R$ 954 mil. No audiovisual há muitos outros que foram liberados para captar mais. Aqui o link:
Por que escolher Bethânia para bode expiatório? Por que, dentre todos os nossos colegas (autorizados ou não a captar o que quer que seja), ninguém levanta a voz para defendê-la veementemente? Não há coragem? Não há capacidade de indignação? Será que no Brasil só há arremedo de indignação udenista? Maria Bethânia tem sido honrada em sua vida pública. Não há nada que justifique a apressada acusação de interesses escusos lançada contra ela. Só o misto de ressentimento, demagogia e racismo contra baianos (medo da Bahia?) explica a afoiteza. Houve o artigo claro de Herman Vianna aqui neste espaço. Houve a reportagem equilibrada de Mauro Ventura. Todos sabem que Bethânia não levou R$ 1,3 milhão. Todos sabem que ela tampouco tem a função de propor reformas à Lei Rouanet. A discussão necessária sobre esse assunto deve seguir. Para isso, é preciso começar por não querer destruir, como o Brasil ainda está viciado em fazer, os criadores que mais contribuem para o seu crescimento. Se pensavam que eu ia calar sobre isso, se enganaram redondamente. Nunca pedi nada a ninguém. Como disse Dona Ivone Lara (em canção feita para Bethânia e seus irmãos baianos): “Foram me chamar, eu estou aqui, o que é que há?”


terça-feira, 22 de março de 2011

Grandes sequências do cinema: o minuto final de "Quanto mais quente melhor" (Some like it hot), de Billy Wilder (1959)

Grandes sequências do cinema: o "nonsense" acrobático e metalinguístico em "Sherlock Jr. ", de Buster Keaton (1924)

Grandes sequências do cinema: o desfile de moda eclesiástica em "Roma" de Federico Fellini (1972)

Grandes sequências- do cinema : o beijo de Corisco e Rosa em "Deus e o diabo na terra do sol", de Gláuber Rocha (1964)

Grandes sequências do cinema: Fred Astaire e Eleanor Powell em "Melodia da Broadway de 1940", de Norman Taurog

Grandes sequências do cinema: o massacre na escadaria de Odessa em "Encouraçado Potemkim" (Bronenosets Potyomkim) de Sergei Eisenstein(1925)

Grandes sequências do cinema : o aprendizado na mesa em "O milagre de Anna Sullivan" (The miracle worker), de Arthur Penn (1962)

segunda-feira, 14 de março de 2011

Cavoucando o tempo através dos tubos


Por Carlos T. Moura

Aí é que está: é impossível resistir à magia cibernética. Inda mais facilitado pelas trilhas nos escaninhos do Youtube.

Dei de, numa noite deprê, querer ouvir músicas da minha infância e juventude perdidas. Poderia ter purgado-a com três ou quatro doses de Ingmar Bergman ou de Fellini. Preferi no entanto me entregar ao tempo em que a breguice dominava – e não domina ainda? – sob uma farta diversificação. Era a era do rockabilly, da valsa, do xaxado, das trilhas de filmes, da guarânia, do maxixe, da marchinha, do bolero, da balada, do sambinha, do sambão, do twist, das gravações instrumentais disputando pau a pau com o poder das gargantas.

Fiz uma pinçada lá pelo final dos 50, início dos 60, reencontrando meu passado no início da puberdade. E descobrindo pepitas. Mais que as músicas – todas minhas velhas amigas – revi o que a vida fez com elas e comigo.

Começo com as primeiras dez mais, que poderão se transformar em vinte, cinquenta ou cento e oitenta, se para tanto não me faltar empenho e sorte.

Mais importante que as informações, obtidas pela ajuda da memória no éter das Rádios Cataguases, Tamoio, Nacional e JB, são as clicadas que vocês terão que dar nos links do Youtube.

Fica aqui também meu tributo às extensões McLuhan da minha memória: a Wikipédia, o Google, a Enciclopédia Cravo Albim, o AllmusicGuide... Sem elas eu seria uma Maria Ninguém. Do Carlos Lyra, gravada por Brigitte Bardot!






Tito Madi, um classico
cool dos `60


The Platters/Chove lá fora

Eu sempre soube que a música brasileira frequentava os lares americanos muito antes que a Bossa Nova tomasse conta do Carnegie Hall, do Frank Sinatra e dos elevadores. Muito e muito por Carmen Miranda, que não se negou a ensiná-los o que essa república da banana tinha: Ary, Caymmi, Zequinha de Abreu. “Mamãe eu quero” já fora satirizada até pelo Mickey Rooney, travestido de baiana em filme da Metro. E o “Jura”, do Sinhô, estalou nas paradas pelos dedos do Les Paul, o inventor da guitarra elétrica.

Nunca poderia supor é que o The Platters – sim, aqueles elegantes mulatos do “Only you” – tivessem gravado Tito Madi no auge deste e deles. Com a chuva lá fora virando exatamente uma raining outside.

Clicar: The Platters in "It´s raining outside"


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Marino Pinto, autor de "A estrela do mar" (Um pequenino grão de areia), era um bamba sobre qual pouco ainda se fala.


Elza Laranjeira/Aula de matemática

Havia um vasto e desconhecido Tom Jobim antes que a saudade chegasse aos braços do Orfeu Negro. E havia uma intérprete feminina à altura, antes que Sylvinha Telles assumisse o trono e, morrendo cedo, entregasse o cetro a Nara. Que tirou da cadeira os maneirismos e os trejeitos e assentou a voz feminina de acordo com a cartilha única e irrevogável de João Gilberto.

Era Elza Laranjeira, que cantava com a ênfase nos erres, típico da época, quando as rainhas do rádio tinham que demonstrar que passaram pelo consultório do foniatra Pedro Bloch antes de encarar um microfone. Não fosse isso, poderia ter entrado na posteridade. A melodia de Jobim não é lá, mas a letra do Marino Pinto era a “mudernidade” pura de um Newton Mendonça, que desafinou na sisudez da época. Não tivesse sido ele, Marino, o autor do pequenino grão de areia e do bota o retrato do velho outra vez.

Clicar: Elza Laranjeira em Aula de matemática


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Adelino Moreira: o dono das paradas na virada dos `50s para os `60s, com a dor de cotovelo como mote principal.



Carlos Nobre/Ciclone

Enquanto a Bossa Nova falava de rolleiflex, de peixinhos a nadar e da influência do jazz, o português (naturalizado brasileiro) Adelino Moreira dominava todas as paradas botando a dor de cotovelo nos cornos(!) da lua.

Seus títulos costumavam ter só uma palavra, não raro dramática ou bombástica: “Doidivana”, “Fantoche”, “Negue”, “Argumento”, “Borrasca”, “Êxtase”, “Solidão”, “Devolvi”, “Escultura”. Inclui-se no rol esse “Ciclone”, gravado por Carlos Nobre.

Nobre era um Nélson Gonçalves pobre. Lançou algumas composições de Adelino quando este andou brigado com o “Metralha”, que veio a gravar algumas delas anos depois. A voz de Carlos era igualzinha à de Nelson – não fosse Nelson um cantor bem melhor.

O vídeo do Youtube é imperdível. Quem o postou tem um gosto que vai do ridículo ao ridículo, exceto pela estranha enfiada da fotografia de Baudelaire no pedaço que fala “traguei minha mágoa no peito sem rancor”. Seria o ópio, o haxixe (“traguei”)? Se alguém souber o que ele quis dizer, me avise.

Clicar: Carlos Nobre em "Ciclone"


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Joselito em 2008.

Como disse o filósofo Manuel Joaquim - o tempo escangalha com a gente.


Joselito/ Donde estará mi vida

Era impressionante a força que levava o menino espanhol Joselito a cantar. “Donde estará mi vida” foi um tremendo hit no Brasil em 1957 e, escutando-a agora, revela algo do profundo agudo árabe dos cantos flamencos.

Procurando pelo garoto, quase da minha idade hoje anciã, o que descubro? Joselito tornou-se mercenário na África e foi preso por tráfico de drogas em Angola, em 1990. Cumpriu pena na Espanha, voltou a cantar e chegou até a participar, recentemente, de um reality show, fosso natural onde caem os “prés” e “pós” decadentes. As crianças prodígios não costumam ter uma vida normal depois que crescem.

Clicar: Donde estará mi vida por Joselito


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Brenda Lee já deve ter cantado "Jambalaya" um milhão de vezes. Mas não perdeu o sorriso.


Brenda Lee/Dynamite

A voz rascante que algum deus deu a Brenda Lee - diz a lenda que ela tinha só 10 anos quando gravou esse "Dynamite"- era dilacerante. Eu gostava (e ainda gosto) dela pra cacete. Poderia ter sido uma boa cantora de jazz ou de blues – chegou até a gravar alguns standards. Preferiu viver como a queridinha do rock-balada ou saracotear com a cajun music.

Mas nem só de “Jambalayas” viveu. Tinha um timbre semelhante ao de Kay Starr (cantora de jazz da época) e, de longe, ao registro alto de Dinah Washington.

Clicar: Brenda Lee em "Dynamite"

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Sérgio Murilo era meio parecido com o Guga, o tenista. Cantava numa época em que se fazia versões de canções italianas a granel no Brasil, do "Banho de lua" a "Marcianita".


Sérgio Murilo/Marcianita

Sérgio Murilo poderia ter sido um outro Roberto Carlos, pois são da mesma época. Não chegou a ser uma estrela de brilho na Jovem Guarda, mas seu “ Marcianita”, versão de uma canção italiana, é um pitéu. Toda a deliciosa ingenuidade do período está nela. A gravação é extremamente cool, incluindo o vocal. Tem toques jazzísticos muito próximos às vinhetas que Nino Rota fazia na época para "A doce vida", "Oito e meio" e "Rocco e seus irmãos". O colchão instrumental é de primeira, com direito também a um piano e a um sax na medida. Quem identificar os músicos, cartas para a redação.

Em tempo: Caetano regravou-a poucos anos depois, num show na boate Sucata, com os Mutantes. Mudou a letra para atualizar as datas mas, mesmo sendo um cantor de primeiríssima, não reeditou a delicadeza sincopada do original de Sérgio.

Clicar: Sérgio Murilo em Marcianita


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A outra Dalva, estrela de voz chorosa que vendeu milhares de discos cantando "ninguém sabe a dor que eu sinto/dentro de mim". Era uma cafonice suave, leve, quase de acalanto. O brega de hoje é estereofonicamente intolerável.



Dalva de Andrade/Serenata suburbana

Onde andará Dalva de Andrade? A outra estrela Dalva, de voz suave, com raro domínio do falsete, como a xará Oliveira. “Serenata suburbana” foi um estouro em 1960 e, bamba no frevo, o pernambucano Capiba provou ser capaz também de tomar nas rédeas uma guarânia paraguaia à la carte, banhada por doce melancolia.

Clicar: Dalva de Andrade e Serenata suburbana

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François de Roubaix foi uma perda muito precoce para a música do cinema francês.

Além de talentoso pra caramba, era tão galã quantos os astros dos filmes de suas trilhas.





Alain Delon/Laetitia

O compositor François de Roubaix foi um gigante das trilhas sonoras francesas dos anos sessenta. Era de uma versatilidade rara e eu não tenho medo de dizer que tinha um senso melódico tão marcante como Rota ou Morricone, os dois deuses italianos da soundtrack. Transitava do jazz à música eletrônica, não sem antes dar uns beliscos na Bossa Nova. Era um prodígio, com apenas 25 anos.

Morreu novo demais, aos 35, num acidente nas Ilhas Canárias. Deixou uma obra marcante em tamanho e qualidade.

"Letícia" fez parte da trilha de “Os aventureiros”, com Lino Ventura, Joanna Shimkus e Alain Delon. É Delon que canta, quem sabe na única vez em sua vida de ator. Ou melhor, sussurra. Com um registro vocal tão bonito quanto os olhos que destruiu os corações(e outras partes) das donzelas sessentistas.

O filme é um cult de Robert Enrico, raro de se encontrar em vídeo e ausente dos canais alternativos da TV. A trilha tinha também Christiane Legrand ( a soprano solista dos Swingle Singers), irmã do Michel, dando um show no solo bachiano de "Funeral submarino".

Clicar: Alain Delon em Letícia


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Sônia Mamede era uma rainha na era das vedetes.

Fez cinema(chanchadas), teatro de revista e apareceu por muito tempo na televisão.

Era talentosa e muito....muito mesmo.....gostosa.


Só de curvas tinha pra mais de três carretéis


Sônia Mamede e Evaldo Gouveia/Maria Chiquinha

Sônia Mamede e Evaldo Gouveia pintaram os canecos nas paradas de 1961 com essa maliciosa toadinha com sabor mineiro/sulista - de Geysa Bôscoli e Guilherme Figueiredo.

Mamede era uma delícia – nas comédias e nas curvas. Evaldo foi o compositor que conhecemos e, de lambujem, o criador do Trio Nagô.

Geysa Bôscoli não era mulher, era homem. Sobrinho da Chiquinha Gonzaga e tio do Ronaldo. Figueiredo era o próprio: o dramaturgo que ficou mais conhecido como o irmão do João Batista, o general que posava de sunga preta e que governou o Brasil no peito e na marra. Na época em que cinco estrelas na farda tinham o peso das milhares de urnas. Mesmo que quem as ostentasse fosse uma besta arreiada e calçada com ferraduras como ele.

Clicar: Mamede e Evaldo em Maria Chiquinha

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O twist veio para desbancar o rock, mas não desbancou.


Tinha a seu favor ser muito mais fácil de dançar - o rock era acrobacia pura.

No pouco que durou, Chubby Checker reinou.

Depois vieram o hully-gully e o iê-iê-iê. E, com o último e pelos Beatles, o rock nunca mais foi o mesmo.



Chubby Checker/Hava Nagila

Chubby Checker incendiava os ouvidos com um ritmo até hoje alucinante - o twist. Curioso como esta canção, saída das tradições das bodas judaicas, se transformou num frenesi de fazer sacudir as cadeiras e mexer as pernas da moçada que adotou o twist como uma extensão natural do rock´n´roll. Cantada parte em iídiche, teve quase igual sucesso ao de uma outra com os mesmos antecedentes étnicos hebreus: “Bei mir bist du schoen”. Que, popularizada pelas Andrews Sisters, virou standard de jazz, inclusive com a Ella Fitzgerald dos primeiros anos.

Clicar: Chubby Checker em Hava Nagila