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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Pitacos do Mourinha


Por Carlos T. Moura




Em pele de cordeiro?

Austeridade para todos

"A presidente Dilma Rousseff amparou-se em argumentos sólidos e claros para impedir que o reajuste do salário mínimo ultrapassasse o limite dos R$ 545,00. Para começar, a quantia foi fixada no acordo celebrado com as centrais sindicais, e acordos existem para ser cumpridos. Mais: como acaba de anunciar um corte de R$ 50 bilhões no Orçamento, o governo se concederia um atestado de irresponsabilidade caso concordasse com qualquer mudança que ampliasse perigosamente o rombo já assustador da Previdência Social.

Ao enquadrar pelegos sem palavra e aliados sem compromisso com a seriedade, Dilma Rousseff também revogou a falácia segundo a qual o Executivo sempre se dá mal quando resolve bater de frente com parlamentares insatisfeitos. Todo presidente eleito nas urnas, sobretudo no início do mandato, tem cacife de sobra para induzir a maioria governista a criar juízo.

Como os políticos se concedem vantagens absurdas, como a curva dos gastos públicos atesta a vocação perdulária dos governos, a discussão sobre o valor do mínimo costuma deixar o campo da racionalidade para cair no pântano do emocionalismo insensato. Já que os ganhos dos que governam são abusivos, argumentam equivocadamente incontáveis brasileiros, por que agir com prudência só na hora de reajustar o salário mínimo?

O certo é dizer não a qualquer tipo de gastança irresponsável. O brasileiro precisa aprender que é ele quem paga todas as contas. Também precisa aprender, de uma vez por todas, a respeitar acordos, regras e leis. A vida previsível pode ser menos emocionante. Mas também é bem menos perigosa."

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Sabem de onde foi tirado o texto aí de cima? Do blog do Paulo H. Amorim? Do Rodrigo Vianna? Da CartaCapital?

Neca. Pasmem: saiu do "Ponto de vista", editorial da revista veja, no blog dela, hoje, 17 de fevereiro. O que será que significa essa declaração de amor a Dilma em tom solene?

E o mais engraçado de tudo: o estilo é o do Augusto Nunes, escarrado e cuspido. Ou seja: querem que eu escreva contra ou a favor?


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Acho que não veremos mais as crises existenciais de Paul Weston

A série de tv do HBO "Em terapia" (In treatment) encerrou sua terceira temporada, há cerca de dois meses, nos EUA.

E parece que acabou de vez. Uma lástima.

Conheci-a através de um artigo do crítico Sérgio Augusto, no Estadão, que cantava-lhe loas e lantejoulas de obra-prima, com referências até aos filmes de Ingmar Bergman.

Confere. É hipnotizante, especialmente a primeira temporada. Os episódios se passam quase o tempo inteiro dentro do consultório do dr. Paul Weston (Gabriel Byrne), um psicanalista humano da cabeça aos pés que se envolve emocionalmente com todos os seus pacientes.

Ali foi revelada a australiana Mia Wasikowska, a garota que Tim Burton depois fisgou para viver sua Alice. Atriz excepcional. O elenco todo foi afiadssímo, nas três temporadas, mas há que se enfatizar o trabalho contido, em gestos e expressões, de Byrne. Fazendo o psicoterapeuta. Sem contar que sua supervisora, em dois períodos, foi a Dianne Wiest. Aquela atriz que Woody Allen adorava e que, na série, deu um tom britânico, tipo Judi Dench, ao papel. Mesmo sendo americana da gema.

"Em terapia" confirma o vaticínio de inúmeros críticos: o grande cinema americano já abandonou Hollywood há séculos. Passou para as salas dos lares, notadamente através das produções extraordinárias do (ou da) HBO. Batendo quase na altura desta, pelo menos duas outras do canal me deixaram boquiaberto e fizeram com que varasse as madrugadas, devorando suas impecáveis temporadas em dvd: "Família Soprano" e "A sete palmos".

A terceira do "terapia" é outra obra-prima de delicadeza e de aprofundamento nos relacionamentos humanos. Dois personagens, além de Paul, é claro, me deixaram de queixo mole - o indiano Sunil (Irrfan Kahn, outra tremenda revelação) e Adele, a terapeuta em que Paul tenta se agarrar para salvar-se de seu inexorável naufrágio existencial. E por quem ele se apaixona.

Há uma "trivia" rica na série. O original veio de um sucesso na tv de Israel. O principal produtor executivo, roteirista da maior parte dos episódios e diretor de vários é Rodrigo Garcia. Filho do Gabriel Garcia Marques.

Um dos diretores (e também produtor) é Paris Barclay. Gay assumido (e casado), é um respeitado diretor negro de séries e de vídeos musicais.

Por fim, um dos principais roteiristas é o israelense Nir Bergman. Tudo a ver com o xará sueco.


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O Sherlock de araque dos comentários políticos

(a única semelhança com o Clouseau é o bigode; o inspetor da Pantera cor de rosa era furos mais inteligente do que Merval)


Meus amigos Jards Santos e Flávio Sereno me perguntaram hoje se eu havia lido o Merval falando da votação do mínimo.

Ainda não , mas fui ler. O zumbi excrementório dos marinhos repete suas agruras, agora chamando Mantega e Dilma de irresponsáveis fiscais e destilando seu vomitório diário.

A única coisa que pude fazer foi postar um comentário , através do blog do Noblat. Tenho a esperança de que ele leia - e morda os lábios com raiva, como fez uma vez comigo numa resposta por e-mail. A transcrição é esta:

"Merval prova aqui que a liberdade de imprensa no Brasil é a ideal, ou seja, não tem limites. Ele se sente à vontade para acusar o ministro da Fazenda e a presidente de "irresponsáveis fiscais", porque sabe que vai ficar por isso mesmo. Não há direito de resposta nos jornais brasileiros que, quando processados, sempre se safam.
Nossa justiça parece ter medo dos jornalistas e os leitores das zonas sul e azuis do país só querem ouvir a voz dos que lhes apoiam o ódio a qualquer programa ou atitude que não for benéfica à sua classe.
Vejam como ele se faz de bobo - ou é bobo mesmo - quando diz que há uma "farsa" que tenta transformar um governo de continuidade em um de ruptura.
Ora, Pereira! O governo dagora é o mesmo de ontem, ou você achava que a Dilma ia passar a te dar a confiança que Lula nunca te deu? "












3 comentários:

  1. Moura, fica a sugestão: que tal perguntar ao Augusto Nunes em seu (dele) blog, qual a opinião dele sobre este editorial da Veja? será que ele responde?


    Quanto ao Merval, continua mais perdido que .... (estas reticências podem ser substituídas a gosto). Agora volta a criticar o PT da época em que era oposição. Deve estar enchendo a paciência até dos seus chefes. Não é possível que não tem ninguém mais qualificado pra exercer esse papel.

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  2. Dilma com certeza não vai deixar a peteca cair. Garra para isso ela já mostrou que tem e muita.

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  3. Oi Moura, pois é, muito difícil de acreditar e entender esse editorial da Veja mas acredito que o caminho seja essa tese de desconstrução do Lula elogiando a Dilma...

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