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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Carta aberta ao Incitatus Mervalis

Carta ao Incitatus Mervalis em 27 de outubro de 2012



Prezado Merval Pereira,


“O candidato do bolso do colete de Lula, o ex-ministro Fernando Haddad, continua sendo apenas isso, mais uma invenção do ex-presidente... Se juntarmos a redução da influência de Lula no eleitorado com a incapacidade demonstrada até agora por Fernando Haddad de ser um candidato minimamente competitivo, teremos uma eleição que sugere ser muito mais difícil para o PT do que parecia meses atrás”. 


Foi você quem escreveu isso, não foi, meu caro Merval? Como é que, com tantos anos de colunato, ocupando um importante espaço em seu jornal, você ainda consegue errar tão grosseiramente nas análises e previsões?

Perdeu mais uma vez, Merval. Que você e seus patrões não gostem do Lula e do PT é absolutamente compreensível. Afinal, eles nunca vos paparicaram, como fizeram os seus antecessores no poder.

Mas que venham apoiando veladamente um candidato tão ruim como José Serra, por duas vezes seguidas, faz-me perplexo. Será pela falta de opção ou porque Serra atende a todos os anseios da grande imprensa? Será que ele representa realmente o projeto anti-Lula, anti-PT, anti-inclusão social, anti-fim das desigualdades e, last but, ainda seria um títere a ser pautado à vontade, na defesa dos interesses dela?

Vocês nunca temeram que Serra no poder pudesse tirar o jaleco do Dr. Jeckyl e vestir a pele de lobo do Mr. Hyde? Feito o Collor fez?

Não sei. O que me estranha é que essa imprensa que você representa seja incapaz de levantar um editorial para condenar a campanha do tão querido José, quando ela parte para o obscurantismo deslavado, ao introduzir aborto ou kit gay na agenda. Se fosse o PT, coitado, a fogueira se estenderia da Washington Luís até a Barão de Limeira,  queimando  todo o “lulismo” que fosse encontrado na Via Dutra e arredores.

Perderam de novo, Merval.

Que desperdício de velas foram esses intermináveis dias de “mensalão”. De que adiantou a pressão de vocês sobre o STF e a venda ao público do “maior esquema de corrupção da história”, quando você sabe que não foi bem assim? Nada obstante, venderam a imagem de que um grupo de políticos saqueou os cofres públicos quando, na verdade, o “mensalão” não foi mais do que uma prática de caixa dois, com o dinheiro da legenda partidária,  de resto erradamente corriqueira no País. Apimentada pela ideia de que consciências foram vendidas, para dar ao governo do PT uma maioria que ele já tinha. E tudo isso sem provas concretas.

Mas há que respeitarmos as decisões do Tribunal.  Triste é saber que o julgamento de nada adiantou para os propósitos mediáticos imediatos. A principal eleição, desta vez, a da prefeitura de S. Paulo, está irremediavelmente perdida. E o PT cresceu pelo país a fora.

Para que serviu então o “mensalão”? Para jogar gente na cadeia. Para liquidar com o universal princípio do “in dubio pro reo”. Para desmoralizar os políticos. Para aterrorizar familiares.  Para a vingança a um projeto que não atende à vontade das seis famílias que dominam a informação no Brasil.

Para o que vocês queriam que servisse, não serviu. Perderam, mais uma vez.

Vamos esperar para ver se o “mensalão tucano”, a ser julgado no ano que vem, vai merecer as mesmas colunas, arquitraves, frisos e cornijas dos nossos jornalões e da rede de Tv de maior audiência.  

Eu duvido.

Atenciosamente,


Carlos Torres Moura
Além Paraíba - MG