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sábado, 30 de outubro de 2010

Veja o que Moura escreveu e que O Globo meteu a tesoura (em 30 out)

"Confesso que não consegui entender a manchete de O Globo hoje estampada na primeira página. O que significa "´pressão de bispos dá certo"? Dá certo para quem? Para a campanha de José Serra ou de Dilma? Também estranhei que a menção de que o Papa estaria interferindo na eleição brasileira não fosse acompanhada de, pelo menos, um questionamento editorial.

Na reportagem interna da página três O Globo informa claramente que..."


A grande imprensa brasileira se acomoda cada vez na camada de pré-sal dos esgotos

(Carlos T. Moura)

Moura x O Globo - Censura até aos assinantes (em 30 out)

Senhor Editor,
O Globo publica na edição de hoje um email sobre a " interferência" do Papa nas eleições, que enviei em 29/10, fazendo cortes injustificáveis no original que escrevi.
O que me espanta (ou já não me espanta?) é a desfaçatez com que esse peródico trata as críticas de seus leitores. Omitiram justamente a parte mais importante de meu protesto, ou seja, o preâmbulo em que questiono o parcialismo eleitoreiro desse jornal. Sem contar passagens e termos posteriores em que provo a desavergonhada manipulação de palavras nas manchetes. Todas impressas com tipologia gigante e que se contradizem nas reportagens internas.
Se é para mascarar minhas palavras, prefiro que não as publiquem. O Globo - que tanto pavor tem de uma nova lei de imprensa, acusando-a prematuramente de cerceadora da liberdade de expressão - não tem o direito de censurar o pensamento de ninguém. Se vocês agem assim com seus leitores e assinantes, que são a razão da existência do jornal, imagino o que devem fazer com seus redatores.
Com isso, ficou claro que o jornal perdeu definitivamente o respeito a uma importante parcela de seus leitores.
Atenciosamente,

Carlos Torres Moura
Além Paraíba-MG

(Clique na imagem para aumentar)

Emir Sader fala dos céticos e dos cínicos

Reproduzo do blog do Emir Sader.



http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=595

28/10/2010


De céticos e cínicos

Algumas vozes espalham o ceticismo na imprensa, nas universidades, de repente passam do ceticismo ao cinismo, já não importa nada, tudo é ruim, cambalache, tudo é igual, o mundo vai para o pior dos mundos possíveis.

Foi uma atitude que foi amadurecendo ao longo das ultimas décadas, passou-se a achar que o século XX foi um século muito ruim para a humanidade, o pior dos séculos, etc. Uma atitude de melancolia, de desencanto, de desânimo, de abandono da luta, traduzida no ceticismo, na crítica, que se alastra para jovens gerações, precocemente envelhecidas.

Todos os governos, todos os partidos, todos os processos traem, decepcionam, se corrompem. O socialismo teria dado em totalitarismo – e se soma nisso à direita. Os sindicalistas só querem defender seus interesses. A esquerda e a direita são iguais, etc., etc.

Como as teorias parecem ser maravilhosas e as práticas concretas, não, preferem ficar com as teorias – se possível, misturando um pouco de Nietzsche, de Foucault, de Tocqueville. Pronto, o pessimismo está constituído como visão trágica do mundo.

Encontra-se lugar na velha imprensa para escrever, contanto que não se critique a própria velha imprensa, e se concentre em criticar a esquerda – a URSS, Cuba, a Venezuela, Lula, o PT. Terminam fortalecendo o desinteresse pela política, fortalecendo a direita e desalentando os jovens, enquanto ainda mantêm seu prestígio com eles. Depois de um certo momento já se confundem diretamente com a direita.

O ceticismo pode ser liberal, certamente não é marxista. O marxismo parte da realidade concreta, mas sempre na perspectiva da sua transformação. Esse pessimismo, somado ao catastrofismo, fortalece o mundo tal qual ele é, promove a impotência diante da realidade.

Uma análise dialética da realidade supõe a apreensão das contradições que articulam o concreto, desembocando em linhas de ações e não na perplexidade, na impotência, na passividade, na melancolia e no ceticismo.

No momento em que o povo brasileiro, no seu conjunto, pela primeira vez, começa a melhorar substancialmente suas condições de vida e o expressa em um apoio como nenhum governo teve, é triste ver uma parte da intelectualidade de costas para o povo, melancolicamente continuando a pregar que tudo está muito ruim, pior do que antes, brigando com a realidade, em um isolamento total em relação ao povo e ao pais realmente existente.

O otimismo, por si só, não é revolucionário, mas todos os grandes líderes revolucionários foram e são otimistas, porque acreditam sempre nas possibilidades de transformação revolucionária da realidade. Enquanto o ceticismo leva à inação e, muitas vezes, até mesmo ao cinismo.

Postado por Emir Sader às 18:22

Vitória de Dilma em debate cauteloso

Segue análise do Brizola Neto sobre o debate da Globo.

Vitória de Dilma em debate cauteloso

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Moura x O Globo: Habemus Papa! (em 29 out)

Sr. Editor,

Confesso que não consegui entender a manchete de O Globo hoje estampada na primeira página. O que significa "´pressão de bispos dá certo"? Dá certo para quem? Para a campanha de José Serra ou de Dilma?
Também estranhei que a menção de que o Papa estaria interferindo na eleição brasileira não fosse acompanhada de, pelo menos, um questionamento editorial. Considerando-se que o Estado brasileiro é laico, é estranho que um chefe de outro Estado - o Vaticano - possa vir a interferir, por ser o líder católico mundial, numa eleição daqui.
Se isso fosse verdade - e felizmente não é - teríamos que considerar também como válidas as interferências da Igreja Universal, da Assembléia de Deus, da Igreja Batista e demais segmentos evangélicos do país.
Que religião adotaríamos como a oficial? . Propor também o ensino religioso nas escolas públicas de um estado laico é um disparate e um desrespeito à nossa constituição.
Na reportagem interna da página três O Globo informa claramente que Bento XVI disse que o episcopado "tem o grave dever de emitir juízo moral, mesmo em matérias políticas". Sem mencionar diretamente a eleição brasileira.
Se o Vaticano quisesse de fato interferir em nossa eleição - como alardeia a manchete - teria que franquear também ao Estado brasileiro o direito de botar uma lenha na fogueira que solta a fumaça nas eleições papais.

Carlos Torres Moura

Moura x Um Ph.D

Meu caro Demétrio Magnoli,

Seu artigo na no GloboUm mito de papel - chega a ser assustador. Uma desconstrução teórica, recheada de cópias dos clichês disparados pela grande imprensa. Vestido com o fraque do academicismo e com uma profusão de desconsiderações contra Lula, o PT e a esquerda. Mas, principalmente , contra a maior parte da população brasileira. A que não lê manchetes, muito menos graduados articulistas bissextos.

Quando digo assustador é porque, a cada dia que passa – e especialmente durante esta eleição – uma avalanche de textos na mídia me exibe pessoas que parecem habitar um país diferente do meu.

A começar pelo título. Você é outro que decidiu se apropriar da História. Sem contar a total falta de acuidade e de isenção para analisar a figura do presidente.

É muito difícil para alguns próceres da imprensa e da “alta inteligência” brasileira entender Luís Inácio. Ele não nasceu para prestar conta ao jogo de xadrez mental dos doutores. Lula é o caboclo que fala fundo, falando o raso. É um personagem sagaz, esperto, desculturado e permanentemente humano em acertos e erros. Um sujeito assim, assim, roseano do sertão de Pernambuco, cabra da peste pendurado num poste que não era para ser seu. Querer transformá-lo em mito nunca foi o mote de sua platéia. Lula é um emblema.

Seu texto, carregado pela erudição emparedada por citações e significados, tem a arrogância típica dos escritórios. Mas, quando precisa, desce fácil à linguagem dos bordéis, rebaixando os personagens que não lhe agradam: Dilma Rousseff, candidata a presidente, virou duas vezes a “mulher do Lula”. O carimbo que você lhe põe é típico de sua classe, Demétrio. Não repito arrogância para não ficar redundante. Dilma Rouseff tem nome.

O Brasil que frequento não sai nas páginas do Globo. O Brasil tingido, escrachado, cujos coadjuvantes deveriam ser os protagonistas, só tinha lugar no tanque e na pia da cozinha. Agora entrou na sala. Este é o Brasil que admira Lula. É o da mesma raça dele: brincalhão, gaiato, zombeteiro, carinhoso e às vezes brigão. E muito ruim de palavreado. Quando leva uma televisão pra consertar não fala que está estragada, fala que está “sem feição e sem proseado”. Ou seja, sem imagem e sem som. Pra entender isso é preciso ter comido calango rosado de Minas ou pastel de posto de gasolina em Juazeiro.

Um Brasil às vezes vaidoso que, em sua pobreza simbólica, pede um presente de aniversário. Como Lula fez.

Não exagere, Demétrio. Tem coisa pior no mundo.

Seria mais fácil, quando você simplifica a esquerda brasileira, dar logo nome às reses. Aos meus ouvidos parece que você quis dizer Niemeyer, Aldir Blanc, Ziraldo, Eric Nepomuceno, Leonardo Boff etc. Transcrevo: “pela vertente dos intelectuais de esquerda que renunciaram às suas convicções básicas(...) Eles retrocederam à trincheira de um anti- americanismo primitivo e, ecoando uma melodia tão antiga quanto anacrônica, celebram uma imagem de um líder salvacionista que fala ao povo por cima das instituições da democracia.”

Ora, Demétrio, quantos chavões! Lula sempre foi um democrata, do chapéu às meias.

Você só deve ler os jornais das quatro famílias (por falar em família, lembrei-me de Marlon Brando). Vá na internet, descubra onde está hoje a imprensa independente do Brasil. A única pessoa que você deu nome, ao falar da esquerda, foi a Marilena Chauí. Rebaixando-a imediatamente a “pós-mensalão”. Saco de pancada fácil, feito o José Dirceu. Marilena vai ser, na História, com todos os seus defeitos, uma expressão brasileira. Nítida e beligerante como sempre o foi.

Não adianta seu vaticínio, ninguém mais arranca isto dela. Sugiro: desanque o Chico Buarque. Tire a toga, Demétrio.

Você fala em jornalismo honesto e eu pergunto: qual? O que você lê e o que estampa a vinte quatro quadros por segundos qualquer farsa que lhe for conveniente? O casal da Globo vibrando diante de uma foto borrada lhe traz mais prazer do que uma bolinha de papel quicando na cabeça de um político que se deixou ridicularizar ao longo da campanha?

Demétrio, não importa o resultado de domingo no qual, pelo que vejo, você opta pelo Serra ou pelo voto em branco.

Importa é que você , com todos seus considerandos e finalmentes, não vai ser outro a tentar rebaixar Lula à poeira da História.

E acrescento: Lula não “urra”, Lula grita. Erudições e submissão de Lula à sua crítica – e à de milhões de brasileiros- é uma pretensão pra cair no vazio.

Eu me apresento como Carlos Torres Moura, aposentado, 62 anos, segundo grau, artigo 99. Ex-bancário. Não para me fazer de humilde ou inferior. Só como referência. Lamento que O Globo – e a imprensa que carrega o ranço do baronato – crave no final de cada artigo uma identificação de antemão qualificatória: Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia Humana.

Já passou da hora de os brasileiros desqualificados deixarem de abaixar a cabeça por serem pedreiros, bancários, comerciários, açougueiros, camelôs, empregadas domésticas, comerciários, pipoqueiros, entregadores de pizza, porteiros de edifício, diaristas, comerciantes, padeiros, frentistas, operadores de telemarketing, faxineiros, lavradores, palhaços de circo, professores, carteiros, catadores de lixo, biscateiros, policiais, estivadores, garçons, camareiros, bombeiros, comerciantes, eletricistas, lanterneiros, marinheiros......

Carlos Torres Moura

Além Paraiba-MG

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Desespero e Apelação Tucana

http://www.rodrigovianna.com.br/outras-palavras/da-casa-grande-com-carinho-para-a-senzala.html

Desespero e Apelação Tucana

http://www.rodrigovianna.com.br/outras-palavras/da-casa-grande-com-carinho-para-a-senzala.html
Comentário do Joelmir Beting na BandNews TV. Uma singela comparação economística de dois momentos eleitorais.
Os números falam por si e a conclusão, sobre a qual tenho minhas dúvidas, é do autor:

http://www.joelmirbeting.com.br/noticias.aspx?IDgNews=2

Na economia brasileira, não há como uma eleição depois de outra. No segundo turno de 2002, estávamos no fundo do poço. Agora, no melhor momento em 40 anos.

Em 2002, inflação de 12,5%; agora de 5,1%.

O dólar, de R$ 3,94 para R$ 1,70.

PIB de 2,7% para acima de 7%.

Desemprego, de 12,7% para 6,2%.

E o chamado risco país, acima de 2.400 para 174 pontos, hoje, o menor da história.

Não é para menos.Desde 2007, o Brasil desfila crachá de grau de investimento recomendado pelas agências internacionais de classificação de risco de crédito de países, bancos e empresas. Vai daí que os negócios em geral não registram no radar a passagem da sucessão presidencial.

Com Dilma ou com Serra, a economia ensaia para 2011 um desempenho ainda melhor que este de 2010.
(27/10/2010)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Moura para Jabor em 19 out 2010

.Jabor,
Seu artigo de hoje - A difícil missão de Dilma Rousseff - volta carregado por todos os seus vícios e desprovido de qualquer virtude, pois você é durão, do "mal", de escrita priápica. Virtude é coisa de veado.
A temática é monocórdica, a de sempre, as elipses saturadas, as exibições pirotécnicas de circo de cavalinhos. Boi do asfalto chifrando Lula, touro enfezado babando na "canalha" do PT. No entanto, em todos os finais suas patas sempre ciscam pra trás e você enrola o rabo por mais uma semana no curral, pra voltar a zanzar no mesmo círculo na seguinte.Mas isso não importa, seja durante ou depois de eleições. Este é o script que lhe paga os salários e as conferências para executivos abonados, pois você vive das migalhas monotemáticas que o petismo lhe joga pelo caminho.
O que importa é que você, como eu disse num email anterior, deve sofrer o diabo por não ser Gláuber, Nélson Rodrigues ou Paulo Francis. Então acorda, olha-se no espelho e, sob seus três metros de prepotência e de falsa alta cultura , sai galopando em busca das mesmíssimas vítimas.
Sua coluna prova que os Mesquitas e os Marinhos já tiveram melhores serviçais.
Jabor, cuide de sua saúde. Cuide do que resta de seu talento. Você não precisava roubar frase do ACM sobre o Michel Temer, como fez hoje, achando que está fazendo gracinha em primeira mão ("mordomo inglês de filme de terror").Você não precisa usar ad nauseam o nome do Zé Dirceu só porque o fantasma daquele ladrão de galinhas cubano dorme todas as noites contigo.
Seus leitores cansaram, volte a falar de Fellini e da sequencia imortal de Broadway Melody of 1940. O que já era ridiculamente cômico durante um tempo agora ficou patético.
Hoje você fez mais uma de suas denúncias vazias, genéricas, etéreas e com bois anônimos. E esta foi gravíssima, deveria levá-la à Polícia Federal e, se achar que ela também pertence ao Lula, à Interpol. Você derramou, no inconfundível estilo espora-de-soltar-faíscas, a seguinte diarréia verbal: "... roubalheiras revolucionárias dos fundos de pensão que já mandaram para o exterior bilhões em contas secretas."
Ainda bem que é o pessoal do PT. Se fosse na era FHC você estaria estrepado. Lembra do Francis e do processo que os diretores da Petrobrás lhe moveram por denúncia irresponsável em pleno período da plumagem tucana? Francis passou a piar fino e fez tudo pra tirar o processo da corte americana e trazê-lo para o Brasil. Porque lá a cana canta, aqui nem sempre. Foi salvo pela morte no meio do caminho, coitado.
Vou encerrar e lançar um desafio de macho, pois sei que você não leva desafetos para a sala: duvido que escreva um artigo chamando na chincha a cambada de intelectuais que ontem cravaram Dilma na alma e no voto. Um Niemeyer aqui, um Chico ali, um Barretão acolá, um Carvana em baixo, um Fernando Morais em cima, um Gil na soleira. Trate-os no mínimo como bandidos coniventes, como corja de desocupados, como malta do " aparelhamento petista do estado ". Se não o fizer, é mulher do padre.
Topas?
Carlos T. Moura
Além Paraíba-MG
ctmoura2002@yahoo.com.br

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Moura x Miriam Leitão em 26 out ("Imprensa em foco")

Prezada Miriam,
Comparar questões de segurança nos EUA - papéis do Pentágono, guerra no Iraque, segredos de estado - com a discussão sobre imprensa x governo no Brasil é um exagero desproposital. Não é este tipo de " censura" que está em jogo entre nós.
Seu artigo é interessante, porque vale pro outro lado da moeda. Quando, por exemplo, você fala da resistência dos blogueiros e twitteiros em Cuba. Você já viu que está acontecendo o mesmo no Brasil?
Só que aqui os internautas não resistem ao governo, mas ao poder absoluto que a imprensa (para a qual você trabalha) ganhou nos últimos tempos. Ou melhor, tomou.
Nossa grande imprensa raramente ouve os acusados, nunca dá direito de resposta, apoia candidato sem declarar, não publica uma carta que faça reparos a erros grosseiros em manchetes e matérias, não alardeia na primeira página resultados favoráveis a seus desafetos. Vocês são deuses e não sabíamos.
Controle não é necessariamente censura, Miriam. Existem leis de imprensa em qualquer país civilizado, quem sou eu pra te ensinar. O que é nefasto é o fato de quatro famílias dominarem a informação nas duas maiores cidades do Brasil, uma delas sendo dona de jornal e da maior rede de televisão do país. E ficar tudo por isso mesmo.
Tudo tem controle: a justiça e a polícia têm suas corregedorias, as concessionárias de serviços públicos têm as agências, a publicidade tem o Conar, os profissionais liberais têm suas Ordens e Associações, os administradores públicos têm os TCUs, o presidente tem o Congresso e o STF e por aí vai.
Vivem exigindo que Lula peça desculpas por suas verborragias públicas, mas vocês só se retratam quando a justiça lhes põe a canga da lei. Venho fazendo seguidas correções ao Globo e uma até a você (quando publicou que Dilma perdeu no primeiro turno no RS). Todas caíram no poço da indiferença. Deuses.
Ninguém é dono da voz do mundo, nem Lula, nem vocês. E democracia pra valer é moeda rara, Míriam.
Quando você diz que os governantes não devem fazer tão pouco da inteligência dos jornalistas, eu replico: que vocês também não façam da nossa.
Com consideração,
Carlos Torres Moura
Além Paraíba-MG

Moura no Escrevinhador

Obrigado Rodrigo Vianna!

http://www.rodrigovianna.com.br/outras-palavras/de-carlos-moura-com-carinho-para-noblat.html

Moura x Merval - O histórico e o histérico em 26 out

Prezado Merval,
Parabéns pela segunda edição de seu livro "O Lulismo no poder", cfe. você mencionou com toda modéstia na coluna de hoje*.
Pensei em comprá-lo - pois sou seu leitor de carteirinha. Por ser caro e muito grosso (no sentido de volume), resolvi ler as resenhas antes. Pensei que fosse pesquisa histórica mas descobri que é um arrazoado histérico. Ou seja: compilação de suas colunas ao longo dos anos. Pra mim, um dejà-vu.
Li que faz uma homenagem, no título, ao monumental Castelinho e seu "Os militares no poder". Quanta saudade dele e também do Marcito, que ocupava seu espaço com os geniais " sábados azuis". Jornalista político que sabe escrever é uma raça em extinção. Ou melhor, já extinta.
Nas resenhas dos sites leio que você faz um " registro da história em tempo real". Não é possível. Não se pode fazer registro histórico com um olho só. História não é para amadores.
O historiador sério pode encarar os fatos sob várias perspectivas, como a marxista do Hobsbawn. Mas não deturpá-los. Se você ler " Bandidos"" vai ver como ele " socializa" Lampião, sem mexer uma vírgula nos fatos.
Portanto, menos um freguês. Não vou fazer falta, of course. Como ler um livro de alguém que trata os acontecimentos à sua maneira e já sai narrando com o furor apaixonado em desqualificar seus retratados?
Em tempo, e ainda sobre a coluna de hoje:
- " a maior passeata da campanha de Serra" foi aquela de domingo, no Rio? Se passeata ganhasse eleição ele estaria lascado, pois a foto aérea que vi no site do Globo me mostrava a curva da Atlântica tomada por um bloco de carnaval quatro vezes menor que o da Miguel Lemos.
- atitude " republicana" do FHC na passagem do bastão para Lula? Sim, é claro, o sociólogo é um fidalgo. Mas a cara dele mostrava também muita alegria pela derrota da "mala" que ele carregou na campanha, você sabe quem, ele está aí de novo.

*Seu colega de jornal, de som e de fúria, o Jabor, também dá um show de modéstia hoje, ao promover o lançamento do próprio filme. Jornalismo no Brasil é isso.

Saudações do
Carlos T. Moura
Além Paraíba-MG

Uma aula de cidadania e de governo Lula (por João Luiz Costa Lopes)

Curitiba, 13 de Outubro de 2010

Amigos,

Não mandei a mensagem para ser agressivo ou xarope, mas por que acredito que há bom humor também neste momento.

O Blog do Professor Hariovaldo, para mim, é um antídoto a este azedume que virou esta campanha.

E aqui deixo claro: por parte da campanha de Serra e seus milhares de emails falsos e acusações mentirosas.

Estou espantado com a quantidade de asnices que assacaram contra a Dilma: ora é homosexual, ora é abortista, ora é presa condenada sem poder ir aos EUA, ora é cumplice de Erenice, ora é terrorista, enfim... uma campanha de desqualificação, raivosa e cheia de ódio.

Ao contrário de vocês, e com todo o respeito a suas opiniões, não acho que a Dilma seja um cavalete. Acho que inclusive ela se mostrou excepcionalmente qualificada para o exercício da função mais importante do governo Lula que era a execução do plano de ação. O lula é figura política das mais importantes, mas Dilma é a executora do plano. Confesso que esta visão tive em profunda e demorada conversa com o Guilherme Amintas, que trabalhou com ela no Ministério e disse que ela é MUITO, mas muito competente no que faz.

No plano político, que é o mais importante, para mim não há dúvida: o governo tem plano para o futuro. Tem PAC . Tem descentralização de conhecimento. Tem crescimentos regionais expressivos. Tem políticas de inclusão para pessoas de baixa renda. tem preocupação com escolas, faculdades, professores e servidores públicos, Tem uma visão diferente de Estado, onde é agente indutor e não regulador. Teve compromisso em proteger a riqueza do petróleo e não de entregá-lo a iniciativa privada. Tem uma visão menos economista e mais estadista da nossa nação.

Se antes todos os investimentos eram direcionados ao Sul sudeste, hoje há uma alteração deste eixo e o nordeste começa a ser um agente importante de desenvolvimento.

Se tiver oportunidade entre nos planos do PAC, e lá vais ver um projeto de futuro, com integração regionais com modais distintos, com portos, aeroportos, ferrovias, e isso com obra e empregos verdadeiros e com impusionamento do nosso gigante adormecido. Há emprego e há melhor renda. Não falo isso da boca para fora. Falo isso pelo meu frentista Gabriel, que tá de carro novo e com casa do minha casa minha vida. O que eu sempre quis de país era que melhorasse para quem precisa e isso está acontecendo.

Vejam o caso dos projetos do cisterna (no Nordeste) e do luz para todos. Dos catadores de papel (recicladores) todo Natal com o presidente Lula. Vejam o discurso do catador de papel na cerimônia de entrega da lei dos residuos solidos... Vejam os discursos da primeira turma de médicos formados pelo pro-uni. Mas isso só na internet.

No caso da educação, tenho em casa uma Professora Universitária muito feliz, que dá aula para alunos do Pro Uni... que quando era da Unicemp teve aluna que era vendedora da loja de sapato, que estudava por este programa de governo com os filhos dos burgueses na universidade positivo e que hoje faz mestrado em Salamanca com bolsa por boas notas.
No agradecimento, ela fala que agradece a Luis Inácio pela oportunidade.

Falo pela Josi,,, diarista de minha mãe...que sustentava sozinha a casa anos atrás, porque não tinha emprego para o marido... Hoje todos trabalham naquela casa. A casa está quitada e registrada em seu nome... tem luz, agua, carro e todos os eletrodomesticos que eu tenho em casa... Foi Além: este ano comprou seu terreno no praia e começou a construir.... É evangélica  e toda hora me pergunta se é verdade o que dizem na igreja.... que a Dilma é isso ou aquilo.

Falo por gente que tem oportunidade hoje... que parece tão comum... Mas não era até bem pouco tempo atras. Antes, oque nego gostava era do exercito reserva, a disposição para ser mão de obra barata... Hoje escuto em reunião do Sindicato de combustível (do fregonese NOX) que ninguém quer trabalhar para receber bolsa família... meu, isso é uma mentira e uma vergonha que chega a dar pena de quem pensa assim ( alguém troca o que ganha hoje, trabalhando, para ficar em casa por 200,00 mês ?)

Tenho discutido aqui no escritório com estagiárias que tem 18 anos... que quando o Lula foi eleito tinham 10 anos... e elas acham que sempre foi assim. Que tem emprego e que renda sempre foi essa. Ganho real e política de melhoria de salário é fenômeno recente... A regra era o arrocho e a ameaça de que não se poderia perder o emprego, porque era dificil arranjar outro. Sabe o que vejo: como ando de ônibus em Curitiba vejo em todos os terminais anuncios com ofertas de trabalho. Em todos. Vejo na loja de recursos humanos um mural cheio... Tem vaga para o povo trabalhar... e as vezes não tem gente para ocupar as vagas...

Vejo uma diferença e um norte para seguirmos... Hoje, andando em Curitiba você percebe que em toda a quadra da cidade existe uma construção... Uma obra nova ou reforma... é só observar... Mas isso é coisa do governo? é evidente que é... Este governo transmitiu otimisto e confiança ao povo... Hoje o povo empresta dinheiro para fazer obra porque sabe que vai pagar.... é um ciclo excepcional que está diante do nosso nariz. Ter dinheiro, ter crédito, ter planos de longo prazo são fatos novos, que há muito não aconteciam. E isso pode melhorar, porque vem a Copa, porque vem Olimpiada, porque pode vir para cá muito e muito de bom que o mundo conhece e que aqui só a elite conhecia... Até o lazer, férias... são férias lotadas e oportunidades... gente viajando de avião pela primeira vez na vida e financiando o plano nas Casas Bahia...

É um país diferente e será que eu sou tão tolo assim que não consigo ver todo este pessimismo estampado nos jornais e nos noticiários? será que estamos em crise mesmo ? Ou será que estes jornais somente querem o que sempre quiseram... seus amigos no poder e as benesses que isso significa... Tenho uma lista de blogs para indicar aos amigos... uns que analisam as notícias dos jornais, outros que analisam os contratos da imprensa com o governo do PSDB, outros que defendem Lula e o governo e que geralmente parecem mais com o que penso do que aquilo que vejo na TV ou nos jornais.

Acho que neste ano teve dois fatos marcantes, políticos mesmo, que me fizeram mudar o conceito do governo:
1) quando visitei a Itaipú... aquilo é fantástico... mas o vídeo mostra uns cem programas sociais que estão sendo feitos através da Itaipú com todas as prefeituras. Coisa fantastica mesmo. Aí falei com o André e ele me contou algumas coisas: Quando o Lula nomeou o Samek disse para ele ... olha não é de luz que você precisa cuidar, isto a empresa já faz... vocês precisam é cuidar da Agua.... disso derivou uma série de programas, cultivando agua boa... canais estravasores ... canal da piracema... agua ribeirinha ... UNILA no pátio da Itaipu ... carro elétrico da itaipu.... MAS como eles disseram , no começo não foi fácil: quem era de carreira não achava que era da empresa esta responsabilidade... ela tinha que apenas que produzir LUZ como sempre fez... Isso foi uma guerra em todos os anos... MAS hoje você vai lá e sente o orgulho dos caras que compraram as idéias... É um show e se puder tem que ir para ver com os próprios olhos....


2) Lançamento do primeiro navio na retomada da construção naval brasileira... preparando o futuro, preparando o pré-sal e preparando conhecimento.
Quando vi a entrevista do presidente da transpetro e ele dizendo o que entendiam da industria naval ... como o Lula pensou a coisa... como ele exigiu que fosse feito investimento,,, e como o Brasil estava atrasado entendi o que era planejamento....
Em resumo ele disse que a industria do mundo hoje entrega um navio com construção em SETE blocos. Que o Brasil, na época do sucateamento estava fazendo o mesmo navio em 300 blocos e que se fosse assim seria suícidio... Só se poderia fazer com tecnologia nova e parceria... Hoje o Brasil está fazendo NAVIO com 12 blocos... sabe o que isto significa: que não é birra,  é estratégia internacional para ser competitivo, ao mesmo tempo que é aqui que está sendo feito.

São dois exemplos de alteração de foco... De perspectiva de futuro... de tratamento diametralmente oposto ao que os do ládodelá pensam: estrategicamente eles pensavam: é mais barato na China, vamo bora comprar lá.... Esta era a estratégia do Brasil....   A empresa produz luz? azar do meio ambiente, peixe e agua...

Quanto a todos os preconceitos que se tinha antes e que se manifestam agora o que há de concreto é exatamente o contrário do que pregam... Melhor explicando: acusavam que o PT ia quebrar o Brasil, que ia ser a anarquista comunista, que era ditatorial, que era o demônio... que ia ser uma vergonha lá fora ter presidente que não falava ingles (e mal falava portugues) Enfim : que ia ser um desastre....E acho que os fatos desdizem tudo o que disseram antes: O brasil não virou uma baderna, é altamente respeitado lá fora, cresceu, enfrentou crise, pagou o atrasado ao fundo, mudou a lógica de investimentos, fez fundo soberano, tem reservas, não é uma ditadura, tem liberdades de religião, imprensa, opções, enfim, tem tudo que o bom aqui que é a convivência de vários povos. São oito anos desdizendo tudo que afirmam que acontecerá de errado.

Nesta trilha há sempre pessoas que criticam... vejo agora o vídeo de Diogo Mainardi e de Marcelo Madureira... com as suas opiniões carregadas de ódio... tudo bem, é a opinião deles, mas não concordo com elas. Entendo bem ao contrário: sempre pautei os exemplos da minha vida por pessoas que de fato fazem coisas pelos outros... neste quesito entendo que há dois lados -- os que fazem alguma coisa e os que criticam, que dizem que pode ser melhor... Meu exemplo de vida neste caso tende a ser o Lula que de fato faz coisa pelos outros... e não estes outros dois seres que só criticam mas nunca produziram nada de útil a quem realmente precisa. Igual a eles leio e escuto vários todos os dias.

Nesta eleição entendo que existem lados bem definidos. E o ladodelá chama Dilma de terrorista. Quem enfrentou a Ditadura militar, colocando a sua própria vida em risco, para lutar por liberdade, democracia e especialmente por direitos do próximo EU SEMPRE CHAMEI DE HERÓI. Meus heróis e como eu os definia não mudou um centímetro.

Não me acho capaz de dar lição de moral a ninguém... Mas acho que tem pessoas que por fazerem a diferença na vida dos outros deveriam ser ouvidas.

Por isso acho que é meu dever citar a entrevista do Dr. Nocodelis.. Um Brasileiro que faz a diferença e que entendo muito mas muito qualificado para propor o debate no nível que eu gostaria de ver.

Não quis ser arrogante nem raivoso e nem querer explicar nada a ninguém. Somente explico minhas razões para votar em Dilma 13 nesta eleição, sem qualquer dúvida.

A quem quiser replicar ou mandar email, assino com meu nome completo: João Luiz Costa Lopes (
joaoluizlopes@hotmail.com)

Segue abaixo a referida entrevista:

Miguel Nicolelis: Século 21 “pode vir a ser o século do Brasil”
Miguel Nicolelis, que defende “soberania intelectual” do Brasil, anuncia apoio a Dilma Rousseff
por Luiz Carlos Azenha

Entrevistei pela primeira vez o dr. Miguel Nicolelis quando era repórter da Globo. Ele é um dos mais importantes neurocientistas do mundo. Tratamos, então, do uso de impulsos elétricos capturados no cérebro de um macaco para mover braços mecânicos, pesquisa que ele desenvolveu na Universidade de Duke, nos Estados Unidos. O potencial desse tipo de pesquisa é tremendo: permitir que paraplégicos façam movimentos com o uso de impulsos elétricos do próprio cérebro, por exemplo.

Desde então, o cientista implantou em Natal, no Rio Grande do Norte, o Instituto Internacional de Neurociência, uma parceria público-privada. E continua coletando prêmios nos Estados Unidos, alguns dos quais anunciados recentemente:


Dois meses depois de ter recebido dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos US$2,5 milhões para investir em suas pesquisas no campo da interface cérebro-máquina, Miguel Nicolelis volta a ser distinguido com um prêmio de aproximadamente US$4 milhões da mesma instituição. Os recursos devem ser aplicados no desenvolvimento da nova terapia para o mal de Parkinson que vem mobilizando o pesquisador há alguns anos e que, na avaliação dos NIH, se constitui numa pesquisa “arrojada, criativa e de alto impacto”. Miguel Nicolelis é a primeira pessoa a receber da instituição americana no mesmo ano o Director’s Pioneer Award e o Director’s Transformative R01 Award.
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Hoje liguei para a Universidade de Duke, nos Estados Unidos, quando soube por e-mail que Nicolelis tinha decidido anunciar publicamente seu apoio à candidatura da ex-ministra Dilma Rousseff.

Ele afirmou que faz isso por acreditar que Dilma representa um projeto de país em linha com o que acredita ser desejável para o Brasil: o desenvolvimento de uma “ciência tropical” e de um conhecimento voltado para garantir a soberania nacional. O áudio e a transcrição aparecem abaixo:

Transcrição:
Por que é que o sr. decidiu anunciar publicamente seu apoio à candidata Dilma Rousseff?
Porque desde as eleições do primeiro turno eu cheguei à conclusão que essa é uma eleição vital para o futuro do Brasil e eu estou vendo um debate que está se desviando das questões fundamentais na construção desse futuro e dessa maneira eu achei que como cientista brasileiro, mesmo estando radicado no Exterior — mas que tem um projeto no Brasil e tem interesse que o Brasil continue seguindo este caminho — eu achei que era fundamental não só que eu mas que todos que pudessem se manifestassem a favor e fizessem uma opção pelo futuro que a gente acredita que é o correto para o nosso país.

Que futuro é esse?
É o futuro da inclusão social, o futuro em que as crianças que ainda nem nasceram possam ter a educação, saúde, ciência, tecnologia e a possibilidade de construir os seus sonhos pessoais sejam eles quais forem. Futuro que nós, a sua e a minha geração não tiveram. E um futuro que não leve o Brasil a retornar a um passado recente onde nós tinhamos, além da insegurança financeira, uma total falta de compromisso com o povo brasileiro e com a coisa brasileira. Então, nesse momento para mim essa é uma eleição vital, é um momento histórico para o Brasil. Eu viajo pelo mundo inteiro e eu nunca vi o nome do Brasil e a reputação do Brasil tão alta (inaudível) e este é o momento de deslanchar de vez e não voltar para o passado.

Fale um pouquinho do projeto que o sr. tem em Natal pra gente e da importância que o sr. acredita que o governo Lula teve — eu já li muito o que o sr. escreveu a respeito — para que esse projeto fosse implantado.
Nosso projeto é o primeiro projeto no mundo que usa a ciência como agente de transformação social – ciência de ponta.
Quando, oito anos atrás, comecei esse projeto… fui a São Paulo, me disseram que não havia esperança de fazer nada igual fora de São Paulo, porque 80% da produção científica do Brasil está concentrada no estado de São Paulo.Eu usei isso como um diagnóstico dos erros passados, porque um país que quer se desenvolver como uma federação e que quer oferecer cidadania ao seu povo não pode concentrar a produção de conhecimento de ponta e a disseminação de conhecimento de ponta num único estado da União.
E aí eu propus de levar esse projeto de ponta — que é fazer neurociência como se faz em qualquer lugar do mundo, em lugares que são, que tem a dianteira da fronteira dessa área no mundo — na periferia de Natal, usando essa ciência para desenvolver uma série de projetos sociais que permitem que a criança tenha um projeto educacional desde a barriga da mãe — que faz o pré-natal dentro de nosso campus do cérebro — até a pós-graduação na universidade pública.

E o primeiro grande parceiro desse projeto foi o governo federal, foi o presidente Lula e a seguir quem eu considero o maior ministro da Educação que o Brasil jamais teve, dr. Fernando Haddad, que transformou não só as políticas públicas mas o pensar do Brasil em educação, concluindo e chegando à conclusão que toda criança brasileira tem direito a perseguir seus sonhos intelectuais e não só ser abandonada em alguma escola técnica para servir ao mercado de trabalho. Que ela pode ser física, química, bióloga. É isso o que nós fazemos.

Nós criamos um projeto de educação científica que é principalmente um projeto de educação para cidadãos, que vão lá no turno oposto da rede pública, são mil crianças no Rio Grande do Norte, 400 crianças no interior da Bahia — na terceira escola que nós acabamos de abrir — e nós vamos ampliar isso para 2 mil crianças no ano que vem e se tudo der certo para 4 mil crianças em 2012. E esse projeto só foi possível porque o Ministério da Educação e o governo federal acreditam, como a gente, que essas crianças da periferia de Natal, do interior da Bahia, do sertão do Piauí, do Amazonas, de Roraima, também tem direito à educação de altíssimo nível e a perseguir seus sonhos intelectuais.

E como é que isso se conecta com a campanha de Dilma Rousseff?
Essa é uma visão de país onde a cidadania é levada a todos os brasileiros, onde todos os brasileiros tem a oportunidade de acesso ao conhecimento e à informação para fazerem e tomarem decisões por si mesmos, de acordo com a sua própria visão do mundo. Eu acredito que a candidatura da ministra Dilma possibilita viabilizar esse futuro para o Brasil e a candidatura oposta, a candidatura do partido de oposição,  ela basicamente não tem mensagem alguma para o resto do Brasil, ela tem mensagem para a sua audiência, que é restrita, na minha opinião, ao estado de São Paulo e talvez até a cidade de São Paulo, não existe projeto de Brasil na outra candidatura. Enquanto a futura presidente do Brasil, Dilma Rousseff, tem um projeto de Nação que é o que sempre faltou para o nosso país.  Nós sempre tivemos projetos de alcançar o poder e nunca um projeto de Nação. E o que o presidente Lula fez que foi colocar o Brasil nesse caminho, só pode ser, na minha opinião, continuado, com as políticas públicas que a ministra Dilma tem proposto e que eu acredito vai dar continuidade. Se nós não tivermos essa disposição de ter um projeto de Nação, se nós optarmos como país pela outra proposta, eu temo que infelizmente o Brasil vai perder sua chance histórica de se transformar no país que todos nós queremos ter.

Dr. Nicolelis, qual é a importância do conhecimento que o sr. está transferindo — o sr. está em Duke, agora?
Estou aqui em meu laboratório da Duke [University, na Carolina do Norte] nesse momento, mas quarta-feira já estou viajando para o Brasil, para Natal, onde nós montamos um centro de pesquisas de ponta, de neurociências. Nós estamos transferindo conhecimento, inovação, do mundo todo… Nós estamos a ponto de receber o que vai ser um dos mais velozes supercomputadores do Hemisfério Sul, doado pelo governo da Suiça, um dos maiores centros de tecnologia do mundo – a Escola Politécnica de Lausanne, que fechou um convênio com nosso instituto de cooperação internacional – então nós estamos criando em Natal, na periferia de Natal, num dos distritos educacionais mais miseráveis do país, um centro de disseminação de conhecimento de ponta que está transformando não só a neurociência brasileira como a forma de educar as crianças e a forma de trazer as mães destas crianças para dentro de um projeto de inclusão e de cidadania.

Nós estamos construindo lá o primeiro campus do cérebro do mundo, não existe nada igual em nenhum lugar do mundo. E quando o governo suiço veio visitar as obras, veio ver o que nós estávamos fazendo, eles ficaram completamente encantados. Então, eles decidiram fechar um acordo de colaboração conosco ao mesmo tempo em que eles estão fechando um acordo com a [Universidade de] Harvard. Ou seja, nós ficamos em pé de igualdade com a maior universidade do mundo pela inovação da proposta que nós temos na periferia de Natal, provando que em qualquer lugar do Brasil algo desse porte pode ser feito.

Dr. Nicolelis, além do governo federal e agora do governo da Suiça, existem outras entidades ou instituições privadas colaborando com esse projeto?
Ah sim, este é um projeto privado. Mais de dois terços dos nossos fundos e do nosso suporte financeiro vem de doações privadas de brasileiros que moram fora, no Exterior, de fundações europeias, americanas, nós temos parcerias — inúmeras — pelo mundo afora e a beleza disso é que para cada real investido pelo governo federal nós conseguimos coletar quase três reais privados no Exterior e mesmo dentro do Brasil — o hospital Sírio Libanês, por exemplo, é um de nossos parceiros, a Fundação Lily Safra, da brasileira Lily Safra, é uma outra parceira. Nós conseguimos captar para cada real investido publicamente quase três reais privados, mostrando que é possível, sim, realizar parcerias público-privadas que tenham um fundo e um escopo social tão grande quanto este projeto.

Dr. Nicolelis, qual é a importância de o Brasil desenvolver as suas próprias tecnologias em conjunto com universidades de outros países para a soberania nacional e para a capacidade do país inclusive de reduzir a importação de equipamento fabricado fora do Brasil?
Ah, sem dúvida, eu acho que a Petrobras é o grande exemplo, a Petrobras e a Embraer. Nós precisamos de Googles, Microsofts, IBMs brasileiras. Nós precisamos transferir o conhecimento de ponta gerado pelas nossas universidades e pelos nossos cientistas — e o Brasil tem um exército de fenomenais cientistas dentro do Brasil e espalhados pelo mundo que estão dispostos, como eu, a colaborar com o Brasil. Nós temos que criar uma indústria do conhecimento brasileira. É uma questão de soberania nacional. A questão que me chamou a atenção agora, no começo da campanha do segundo turno, a questão da Petrobras, ela se aplica à indústria do conhecimento, que vai ser a indústria hegemônica na minha opinião, no século 21, que pode vir a ser o século do Brasil.

Mas, para isso, nós temos que investir no talento humano. Nós temos que criar formas dessa molecada — como as nossas crianças de Natal — de se transformar em cientistas, inventores, de uma maneira muito mais rápida e ágil do que as formas tradicionais que requerem todo esse cartório até você receber um doutorado e ser reconhecido oficialmente como cientista. Eu estou encontrando crianças no nosso projeto, por exemplo, de 17, 18 anos, que estão sendo integradas às nossas linhas de pesquisa antes mesmo delas entrarem na universidade, porque elas tem o talento científico, talento de investigação, curiosidade e que podem dar frutos muito mais rápidos do que a minha geração deu para o país.

Mas este investimento que pode ser feito com os fundos que vão vir do Fundo Social do Pré-Sal tem que ser feitos para revolucionar a ciência brasileira e criar uma coisa que eu gosto de chamar de “ciência tropical”, que é a ciência do século 21, aplicada às grandes questões da Humanidade — energia, ambiente, suplemento de comida, suplemento de água, novas formas de disseminação democrática da informação — tudo isso faz parte do escopo dessa “ciência tropical” em que o Brasil tem condições plenas de ser, se não o líder, um dos grandes líderes deste século.

Dr. Nicolelis, onde que está aí o nexo entre o que o sr. acabou de dizer, que o sr. mencionou, e a riqueza da biodiversidade brasileira, que ainda não é explorada?
Nós nem sabemos o que nós temos, Azenha. Nós nem tivemos a chance de mapear essa riqueza. Todo mundo fala dela mas ninguém pode dar uma dimensão. Então, esse discurso que eu ouço, ambientalista, superficial, que foi caracterizado no primeiro turno, inclusive, da eleição, ele não serve para nada, porque ele não aprofunda nas questões vitais.

As questões vitais é que a soberania do Brasil também depende de investimentos estratégicos no mapeamento das riquezas que nós temos, do que pode ser feito para o povo brasileiro em termos de novos medicamentos, novas fontes alimentares, novas fontes de energia. Existem dezenas de sementes oleaginosas do semi-árido que são não-comestíveis, que são muito mais eficientes na produção de óleo do que a mamona, por exemplo, que poderiam ser usadas em projetos de parceria de cooperativa no interior da caatinga do Brasil, para se produzir óleo biocombustível para trator, caminhão, que aliviariam tremendamente os custos da produção alimentar, familiar, nessa região do Brasil.

Isso precisa ser explorado, precisa ser mapeado com investimentos em pesquisa básica, em estudos de genômica funcional dessas plantas, tentar entender porque elas conseguem produzir esses óleos de alto valor energético e tentar transferir isso para a economia do Brasil. Existe toda uma economia que pode ser altamente sustentável, que pode preservar muito melhor o ambiente do que nós estamos fazendo até hoje e que pode servir de retorno em empregos e conhecimento que ampliariam ainda mais a matriz renovável energética brasileira.
Então, são coisas que estão na nossa cara e que eu acho que só uma política voltada para o Brasil, uma política que dê continuidade ao que o presidente Lula iniciou nestes oito anos, vai ter condições de manter dentro do Brasil. Porque existem evidentemente interesses enormes nessas riquezas nacionais, existe um interesse enorme nos cérebros brasileiros que estão desenvolvendo essas ideias e nós temos que manter isso de uma maneira agregada ao Brasil e não simplesmente dar isso de mão beijada para o primeiro que bater na porta com uma oferta ridícula de privatização ou da venda de nosso patrimônio intelectual para fora do Brasil.


Fraude na Licitação do Metrô d SP

CARTA ABERTA A FERNANDO HENRIQUE CARDOSO


SEGUNDA-FEIRA, 25 DE OUTUBRO DE 2010

Meu caro Fernando
Vejo-me na obrigação de responder a carta aberta que você dirigiu ao Lula, em nome de uma velha polêmica que você e o José Serra iniciaram em 1978 contra o Rui Mauro Marini, eu, André Gunder Frank e Vânia Bambirra, rompendo com um esforço teórico comum que iniciamos no Chile na segunda metade dos nos 1960. A discussão agora não é entre os cientistas sociais e sim a partir de uma experiência política que reflete comtudo este debate teórico. Esta carta assiada por você como ex-presidente é uma defesa muito frágil teórica e politicamente de sua gestão. Quem a lê não pode compreender porque você saiu do governo com 23% de aprovação enquanto Lula deixa o seu governo com 96% de aprovação. Já discutimos em várias oportunidades os mitos que se criaram em torno dos chamados êxitos do seu governo. Já no seu governo vários estudiosos discutimos, já no começo do seu governo, o inevitável caminho de seu fracasso junto à maioria da população. Pois as premissas teóricas em que baseava sua ação política eram profundamente equivocadas e contraditórias com os interesses da maioria da população. (Se os leitores têm interesse de conhecer o debate sobre estas bases teóricas lhe recomendo meu livro já esgotado: Teoria da Dependencia: Balanço e Perspectivas, Editora Civilização Brasileira, Rio, 2000).
Contudo nesta oportunidade me cabe concentrar-me nos mitos criados em torno do seu governo, os quais você repete exaustivamente nesta carta aberta.
O primeiro mito é de que seu governo foi um êxito econômico a partir do fortalecimento do real e que o governo Lula estaria apoiado neste êxito alcançando assim resultados positivos que não quer compartir com você... Em primeiro lugar vamos desmitificar a afirmação de que foi o plano real que acabou com a inflação. Os dados mostram que até 1993 a economia mundial vivia uma hiperinflação na qual todas as economias apresentavam inflações superiores a 10%. A partir de 1994, TODAS AS ECONOMIAS DO MUNDO APRESENTARAM UMA QUEDA DA INFLAÇÃO PARA MENOS DE 10%. Claro que em cada pais apareceram os “gênios” locais que se apresentaram como os autores desta queda. Mas isto é falso: tratava-se de um movimento planetário.

No caso brasileiro, a nossa inflação girou, durante todo seu governo, próxima dos 10% mais altos. TIVEMOS NO SEU GOVERNO UMA DAS MAIS ALTAS INFLAÇÕES DO MUNDO. E aqui chegamos no outro mito incrível. Segundo você e seus seguidores (e até setores de oposição ao seu governo que acreditam neste mito) sua política econômica assegurou a transformação do real numa moeda forte. Ora Fernando, sejamos cordatos: chamar uma moeda que começou em 1994 valendo 0,85 centavos por dólar e mantendo um valor falso até 1998, quando o próprio FMI exigia uma desvalorização de pelo menos uns 40% e o seu ministro da economia recusou-se a realizá-la “pelo menos até as eleições”, indicando assim a época em que esta desvalorização viria e quando os capitais estrangeiros deveriam sair do país antes de sua desvalorização, O fato é que quando você flexibilizou o cambio o real se desvalorizou chegando até a 4,00 reais por dólar. E não venha por a culpa da “ameaça petista” pois esta desvalorização ocorreu muito antes da “ameaça Lula”. ORA, UMA MOEDA QUE SE DESVALORIZA 4 VEZES EM 8 ANOS PODE SER CONSIDERADA UMA MOEDA FORTE? Em que manual de economia? Que economista respeitável sustenta esta tese?

Conclusões: O plano real não derrubou a inflação e sim uma deflação mundial que fez cair as inflações no mundo inteiro. A inflação brasileira continuou sendo uma das maiores do mundo durante o seu governo. O real foi uma moeda drasticamente debilitada. Isto é evidente: quando nossa inflação esteve acima da inflação mundial por vários anos, nossa moeda tinha que ser altamente desvalorizada. De maneira suicida ela foi mantida artificialmente com um alto valor que levou à crise brutal de 1999.
Segundo mito; Segundo você, o seu governo foi um exemplo de rigor fiscal. Meu Deus: um governo que elevou a dívida pública do Brasil de uns 60 bilhões de reais em 1994 para mais de 850 bilhões de dólares quando entregou o governo ao Lula, oito anos depois, é um exemplo de rigor fiscal? Gostaria de saber que economista poderia sustentar esta tese. Isto é um dos casos mais sérios de irresponsabilidade fiscal em toda a história da humanidade.
E não adianta atribuir este endividamento colossal aos chamados “esqueletos” das dívidas dos estados, como o fez seu ministro de economia burlando a boa fé daqueles que preferiam não enfrentar a triste realidade de seu governo. UM GOVERNO QUE CHEGOU A PAGAR 50% AO ANO DE JUROS POR SEUS TÍTULOS, PARA EM SEGUIDA DEPOSITAR OS INVESTIMENTOS VINDOS DO EXTERIOR EM MOEDA FORTE A JUROS NORMAIS DE 3 A 4%, NÃO PODE FUGIR DO FATO DE QUE CRIOU UMA DÍVIDA COLOSSAL SÓ PARA ATRAIR CAPITAIS DO EXTERIOR PARA COBRIR OS DÉFICITS COMERCIAIS COLOSSAIS GERADOS POR UMA MOEDA SOBREVALORIZADA QUE IMPEDIA A EXPORTAÇÃO, AGRAVADA AINDA MAIS PELOS JUROS ABSURDOS QUE PAGAVA PARA COBRIR O DÉFICIT QUE GERAVA. Este nível de irresponsabilidade cambial se transforma em irresponsabilidade fiscal que o povo brasileiro pagou sob a forma de uma queda da renda de cada brasileiro pobre. Nem falar da brutal concentração de renda que esta política agravou dráticamente neste pais da maior concentração de renda no mundo. VERGONHA FERNANDO. MUITA VERGONHA. Baixa a cabeça e entenda porque nem seus companheiros de partido querem se identifica com o seu governo...te obrigando a sair sozinho nesta tarefa insana.
Terceiro mito - Segundo você, o Brasil tinha dificuldade de pagar sua dívida externa por causa da ameaça de um caos econômico que se esperava do governo Lula. Fernando, não brinca com a compreensão das pessoas. Em 1999 o Brasil tinha chegado à drástica situação de ter perdido TODAS AS SUAS DIVISAS. Você teve que pedir ajuda ao seu amigo Clinton que colocou à sua disposição ns 20 bilhões de dólares do tesouro dos Estados Unidos e mais uns 25 BILHÕES DE DÓLARES DO FMI, Banco Mundial e BID. Tudo isto sem nenhuma garantia.
Esperava-se aumentar as exportações do pais para gerar divisas para pagar esta dívida. O fracasso do setor exportador brasileiro mesmo com a espetacular desvalorização do real não permitiu juntar nenhum recurso em dólar para pagar a dívida. Não tem nada a ver com a ameaça de Lula. A ameaça de Lula existiu exatamente em conseqüência deste fracasso colossal de sua política macro-econômica. Sua política externa submissa aos interesses norte-americanos, apesar de algumas declarações críticas, ligava nossas exportações a uma economia decadente e um mercado já copado. A recusa dos seus neoliberais de promover uma política industrial na qual o Estado apoiava e orientava nossas exportações. A loucura do endividamento interno colossal. A impossibilidade de realizar inversões públicas apesar dos enormes recursos obtidos com a venda de uns 100 bilhões de dólares de empresas brasileiras. Os juros mais altos do mundo que inviabilizava e ainda inviabiliza a competitividade de qualquer empresa. Enfim, UM FRACASSO ECONOMICO ROTUNDO que se traduzia nos mais altos índices de risco do mundo, mesmo tratando-se de avaliadoras amigas. Uma dívida sem dinheiro para pagar... Fernando, o Lula não era ameaça de caos. Você era o caos. E o povo brasileiro correu tranquilamente o risco de eleger um torneiro mecânico e um partido de agitadores, segundo a avaliação de vocês, do que continuar a aventura econômica que você e seu partido criou para este pais.
Gostaria de destacar a qualidade do seu governo em algum campo mas não posso faze-lo nem no campo cultural para o qual foi chamado o nosso querido Francisco Weffort (neste então secretário geral do PT) e não criou um só museu, uma só campanha significativa. Que vergonha foi a comemoração dos 500 anos da “descoberta do Brasil”. E no plano educacional onde você não criou uma só universidade e entou em choque com a maioria dos professores universitários sucateados em seus salários e em seu prestígio profissional. Não Fernando, não posso reconhecer nada que não pudesse ser feito por um medíocre presidente.
Lamento muito o destino do Serra. Se ele não ganhar esta eleição vai ficar sem mandato, mas esta é a política. Vocês vão ter que revisar profundamente esta tentativa de encerrar a Era Vargas com a qual se identifica tão fortemente nosso povo. E terão que pensar que o capitalismo dependente que São Paulo construiu não é o que o povo brasileiro quer. E por mais que vocês tenham alcançado o domínio da imprensa brasileira, devido suas alianças internacionais e nacionais, está claro que isto não poderia assegurar ao PSDB um governo querido pelo nosso povo. Vocês vão ficar na nossa história com um episódio de reação contra o vedadeiro progresso que Dilma nos promete aprofundar. Ela nos disse que a luta contra a desigualdade é o verdadeiro fundamento de uma política progressista. E dessa política vocês estão fora.
Apesar de tudo isto, me dá pena colocar em choque tão radical uma velha amizade. Apesar deste caminho tão equivocado, eu ainda gosto de vocês ( e tenho a melhor recordação de Ruth) mas quero vocês longe do poder no Brasil. Como a grande maioria do povo brasileiro. Poderemos bater um papo inocente em algum congresso internacional se é que vocês algum dia voltarão a freqüentar este mundo dos intelectuais afastados das lides do poder.
Com a melhor disposição possível mas com amor à verdade, me despeço
Theotonio Dos Santos
Theotonio Dos Santos é Professor Emérito da Universidade Federal Fluminense, Presidente da Cátedra da UNESCO e da Universidade das Nações Unidas sobre economia global e desenvolvimentos sustentável. Professor visitante nacional sênior da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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Aos que não tiveram acesso à carta de Fernando Henrique segue abaixo seu conteúdo:

CARTA ABERTA DE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO A LULA / PT
SEM MEDO DO PASSADO
Fernando Henrique Cardoso
O presidente Lula passa por momentos de euforia que o levam a inventar inimigos e enunciar inverdades. Para ganhar sua guerra imaginária, distorce o ocorrido no governo do antecessor, autoglorifica-se na comparação e sugere que se a oposição ganhar será o caos. Por trás dessas bravatas está o personalismo e o fantasma da intolerância: só eu e os meus somos capazes de tanta glória. Houve quem dissesse “o Estado sou eu”. Lula dirá, o Brasil sou eu! Ecos de um autoritarismo mais chegado à direita.
Lamento que Lula se deixe contaminar por impulsos tão toscos e perigosos. Ele possui méritos de sobra para defender a candidatura que queira. Deu passos adiante no que fora plantado por seus antecessores. Para que, então, baixar o nível da política à dissimulação e à mentira?
A estratégia do petismo-lulista é simples: desconstruir o inimigo principal, o PSDB e FHC (muita honra para um pobre marquês…). Por que seríamos o inimigo principal? Porque podemos ganhar as eleições. Como desconstruir o inimigo?
Negando o que de bom foi feito e apossando-se de tudo que dele herdaram como se deles sempre tivesse sido. Onde está a política mais consciente e benéfica para todos? No ralo.
Na campanha haverá um mote – o governo do PSDB foi “neoliberal” – e dois alvos principais: a privatização das estatais e a suposta inação na área social. Os dados dizem outra coisa. Mas os dados, ora os dados… O que conta é repetir a versão conveniente. Há três semanas Lula disse que recebeu um governo estagnado, sem plano de desenvolvimento. Esqueceu-se da estabilidade da moeda, da lei de responsabilidade fiscal, da recuperação do BNDES, da modernização da Petrobras, que triplicou a produção depois do fim do monopólio e, premida pela competição e beneficiada pela flexibilidade, chegou à descoberta do pré-sal.
Esqueceu-se do fortalecimento do Banco do Brasil, capitalizado com mais de R$ 6 bilhões e, junto com a Caixa Econômica, libertados da politicagem e recuperados para a execução de políticas de Estado.
Esqueceu-se dos investimentos do programa Avança Brasil, que, com menos alarde e mais eficiência que o PAC, permitiu concluir um número maior de obras essenciais ao país. Esqueceu-se dos ganhos que a privatização do sistema Telebrás trouxe para o povo brasileiro, com a democratização do acesso à internet e aos celulares, do fato de que a Vale privatizada paga mais impostos ao governo do que este jamais recebeu em dividendos quando a empresa era estatal, de que a Embraer, hoje orgulho nacional, só pôde dar o salto que deu depois de privatizada, de que essas empresas continuam em mãos brasileiras, gerando empregos e desenvolvimento no país.
Esqueceu-se de que o país pagou um custo alto por anos de “bravata” do PT e dele próprio. Esqueceu-se de sua responsabilidade e de seu partido pelo temor que tomou conta dos mercados em 2002, quando fomos obrigados a pedir socorro ao FMI – com aval de Lula, diga-se – para que houvesse um colchão de reservas no início do governo seguinte. Esqueceu-se de que foi esse temor que atiçou a inflação e levou seu governo a elevar o superávit primário e os juros às nuvens em 2003, para comprar a confiança dos mercados, mesmo que à custa de tudo que haviam pregado, ele e seu partido, nos anos anteriores.
Os exemplos são inúmeros para desmontar o espantalho petista sobre o suposto “neoliberalismo” peessedebista. Alguns vêm do próprio campo petista. Vejam o que disse o atual presidente do partido, José Eduardo Dutra, ex-presidente da Petrobras, citado por Adriano Pires, no Brasil Econômico de 13/1/2010.
“Se eu voltar ao parlamento e tiver uma emenda propondo a situação anterior (monopólio), voto contra. Quando foi quebrado o monopólio, a Petrobras produzia 600 mil barris por dia e tinha 6 milhões de barris de reservas. Dez anos depois, produz 1,8 milhão por dia, tem reservas de 13 bilhões. Venceu a realidade, que muitas vezes é bem diferente da idealização que a gente faz dela”. (José Eduardo Dutra)
O outro alvo da distorção petista refere-se à insensibilidade social de quem só se preocuparia com a economia. Os fatos são diferentes: com o Real, a população pobre diminuiu de 35% para 28% do total. A pobreza continuou caindo, com alguma oscilação, até atingir 18% em 2007, fruto do efeito acumulado de políticas sociais e econômicas, entre elas o aumento do salário mínimo. De 1995 a 2002, houve um aumento real de 47,4%; de 2003 a 2009, de 49,5%. O rendimento médio mensal dos trabalhadores, descontada a inflação, não cresceu espetacularmente no período, salvo entre 1993 e 1997, quando saltou de R$ 800 para aproximadamente R$ 1.200. Hoje se encontra abaixo do nível alcançado nos anos iniciais do Plano Real.
Por fim, os programas de transferência direta de renda (hoje Bolsa-Família), vendidos como uma exclusividade deste governo. Na verdade, eles começaram em um município (Campinas) e no Distrito Federal, estenderam-se para Estados (Goiás) e ganharam abrangência nacional em meu governo. O Bolsa-Escola atingiu cerca de 5 milhões de famílias, às quais o governo atual juntou outras 6 milhões, já com o nome de Bolsa-Família, englobando em uma só bolsa os programas anteriores.
É mentira, portanto, dizer que o PSDB “não olhou para o social”. Não apenas olhou como fez e fez muito nessa área: o SUS saiu do papel à realidade; o programa da aids tornou-se referência mundial; viabilizamos os medicamentos genéricos, sem temor às multinacionais; as equipes de Saúde da Família, pouco mais de 300 em 1994, tornaram-se mais de 16 mil em 2002; o programa “Toda Criança na Escola” trouxe para o Ensino Fundamental quase 100% das crianças de sete a 14 anos. Foi também no governo do PSDB que se pôs em prática a política que assiste hoje a mais de 3 milhões de idosos e deficientes (em 1996, eram apenas 300 mil).
Eleições não se ganham com o retrovisor. O eleitor vota em quem confia e lhe abre um horizonte de esperanças. Mas se o lulismo quiser comparar, sem mentir e sem descontextualizar, a briga é boa. Nada a temer.
Fernando Henrique Cardoso